DROPS LITERATURA

Livros para mergulhar no mundo dos amores urbanos

A Confissão de Lúcio, Mário de Sá Carneiro. Uma das obras que mais me surpreendeu gratamente na vida é a narrativa em primeira pessoa de Lúcio contando sua trajetória de amor com a esposa de seu amigo poeta. O grande encanto desse livro é a narrativa repleta de descrições líricas das cidades, entre a séria e saudosa Lisboa e a iluminada e lasciva Paris, vemos um romance brilhante e misterioso nascer, para confundir o leitor. Leiam, e me digam: Marta existe?

Amálgama, Rubem Fonseca. Poucos autores conseguem ser tão crus e profundos em tão poucas palavras quanto Rubem Fonseca. Se antes os pedi que lessem um livro pelo lirismo e pelo encanto, essa coletânea de contos é como uma lufada do ar da marginal Tietê num congestionamento no meio-dia, é repelente, mas totalmente conhecido. As cenas violentas, a raiva dos personagens, a brutalidade da cidade é retratada em uma série de contos que te rouba o fôlego e o sossego, ao mostrar um inquietante retrato das grandes cidades hoje: vivemos em guerra na selva de pedra.

Macunaíma, Mário de Andrade. Um registro do Modernismo Brasileiro, uma ode às contradições da elite intelectual dessa época, uma grande e descarada homenagem à São Paulo. Tudo isso descreve com fidelidade o livro Macunaíma, que pode despertar amor e ódio em quem o lê, mas que deve ser reconhecido pela genialidade, e por mim, especificamente, por ter em seu desenvolvimento um claro amor por São Paulo, os personagens são inseridos dentro da metrópole crescente e podemos sentir a reverência pela cidade entranhada nas letras. É uma leitura indispensável.

O Cortiço, Aluísio Azevedo. É uma leitura obrigatória para quase todos os brasileiros em sistema de escolarização, mas talvez a obra não seja tão apreciada quanto deveria. O Cortiço é um retrato da antiga classe trabalhadora do Brasil e traz em sua narrativa não um amor, mas vários, todos compartimentados nas pequenas vivendas do Cortiço, matizados pelo calor, pela falta de recursos, pela cidade que esmagou sonhos e teceu relações fascinantes nesse livro.

Suor, Jorge Amado. Saindo do Sudeste, é hora de ir para outro cortiço, dessa vez em Salvador. Nessa obra podemos ver a cidade como a mãe e a inimiga dos moradores do casarão separado em quartos para aluguel, sentimos o calor com os personagens, o suor dos moradores em cada página. É uma leitura que arrasta o leitor para o Pelourinho, e que apesar de curta, é direta em nos fazer amar o calor e a paixão dos personagens na capital baiana.

Estação Carandiru, Drauzio Varella. Que tipo de amor pode existir no maior complexo carcerário da América Latina? Muitos tipos e muitas história fascinantes, contadas com maestria pelo médico que teve a ousadia de ajudar os homens trancados numa cidade à parte do resto do país. A realidade urbana de São Paulo – e como a cidade contribui para os desenlaces dos amores e causos dos personagens retratados nesse livro – é fascinante, é uma leitura poderosa, que te deixa com a sensação de ter levado um soco no estômago. A sensação de ter vivido no sistema carcerário de São Paulo.

Bebel que a Cidade Comeu, Ignácio de Loyola Brandão. A cidade já está no título desse livro, anunciando para quem olhar para a capa uma realidade dos grandes centros urbanos: eles se alimentam das pessoas. Bebel é a personagem principal, vai para São Paulo em busca de fama, de glória, e sua saga tem altos e baixos, porque a mesma cidade que te endeusa no auge, te destrói quando as coisas começam a dar errado. Essa é a saga de uma artista e seus amigos lutando para sobreviver entre as armadilhas e agruras da vida urbana.

O Ódio que você semeia, Angie Thomas. É hora de entrar nos livros para jovens adultos, e não adianta torcer o nariz, é um livro incrível. O amor urbano aqui se desenvolve em uma cidade dos Estados Unidos e causa uma fascinação em leitores pouco acostumados com o funcionamento da vida por lá. Starr, a personagem principal, é uma estudante negra em uma escola branca, isso mesmo, lá existem escolas que terão dois alunos negros e nada mais. A luta dessa jovem por se encaixar é comovente e retrata um momento tenso e visceral nos Estados Unidos, e merece um destaque gigante por retratar um amor juvenil encantador e nada abusivo.

A Geografia de Nós Dois,  Jennifer E. Smith. E vamos finalizar de maneira mais leve, conhecendo Nova York mostrada pela visão de uma filha da elite, que vive num dos apartamentos mais altos de um arranha céu, e pelos olhos do filho do zelador, que mora no subsolo, longe da luz solar. Esse livro, que já traz a geografia no nome, nos apresenta um amor juvenil, mas que delineia com delicadeza como as cidades existem de maneiras diferentes para as pessoas, sendo que proporciona uma viagem incrível pela visão dos personagens, que são obrigados a sair de sua zona de conforto por motivos que não revelarei aqui.

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Letícia Silva Santos
(@laetitiasjc) é professora não praticante, formada em Letras pelo amor à literatura e possui uma coleção de livros que nunca será grande o suficiente.