VIVIANE BECCARIA É MÃE DE MENINOS

– Que lindo! Daqui a pouco estará cheio de namoradinhas!

Esse é o elogio (?) padrão que meus filhos recebem todos os anos em seus respectivos aniversários e, fatalmente, flagro-me questionando:

1- Namoradas?
2- O meu filho mais velho tem nove anos!

Desde que o mundo é organizado em sociedade, a ideia do masculino está atrelada à sexualidade.

Quando me tornei mãe, minha visão do quanto o feminismo se faz necessário ampliou exponencialmente. O feminismo é libertador, inclusive aos homens.

Como mãe de meninos, tenho responsabilidades e missões que não podem ser adiadas. Devo ensinar aos meus filhos que cores não definem quem somos (tudo bem gostar de rosa!) e que temos a obrigação de tratar as pessoas da forma que gostaríamos de ser tratados, sem distinções.

Acredito que os ensinamentos apontados fazem parte da formação mínima de um cidadão consciente. Mas não fazem parte. Não são comuns.

O senso comum que presenciamos nos trens, escolas ou bares é aquele no qual o homem é o centro e a mulher é o adorno, aquela que é apresentada ao grupo como uma medalha (ou o mais belo Rolex) e se ela não se enquadra aos padrões, não deveria sequer sair de casa. É o mesmo senso comum que determina e questiona a masculinidade do homem que chora, assiste à novela e tem empatia.

Consequentemente, primavera das mulheres se tornou um marco social importantíssimo, mas em contrapartida, é vista com estranhamento. Esperançosamente, enxergo essa resistência da mesma forma em que a proibição dos cigarros foi recebida na época. Que essa linda primavera, alegoria do feminismo, torne-se corriqueira, imperceptível.

– Meus filhos são muito jovens para namorar e quando isso acontecer, eles terão uma companheira ou companheiro por vez, pois as/os respeitarão! Mas, sinceramente, tenho coisas mais importantes com as quais me preocupar, como por exemplo, com as contas que tenho que pagar neste mês.

Essa é a resposta padrão que eu e meu marido damos aos corajosos que, mesmo nos conhecendo, fazem o comentário inicial desse texto. Geramos um olhar surpreso, mas, finalmente, a intenção é garantir que o meu legado deixe marcas de transformação e que meus filhos sejam cidadãos conscientes, globais e, acima de tudo: LIVRES!

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Viviane Beccaria (e-mail) é mãe coruja, professora e filósofa de botequim. Formada em Letras pelo Mackenzie e especialista em Língua e Literatura Inglesa. Apaixonada por cultura em geral (pop, cult, trash) e fascinada por música, tem uma trilha sonora (e um tema!) para todos os seus dias. Conte com ela para tomar aquela cerveja e conversar sobre o sentido (ou a falta dele) da vida.