Quando se fala em vendeta, 80 % da minha cabeça se volta para o industrial e suas derivações. Não tenho muita certeza do porquê, talvez eu crie uma associação automática de futuro cibernético caótico, algo semelhante as diversas obras de cyberpunk existentes por aí, as quais o ser humano esteja mais sujeito – não que ele já não seja – a cometer tais ações.
Nesse som eu tentei chegar o mais perto possível desse mundo: a timbragem, ou melhor, a roupagem da música foi mais fácil de definir na minha cabeça. Busquei por uma certa simplicidade diabólica na melodia, algo como fazer filmes de terror com palhaços e bonecos.
Resolvi adotar uma estratégia, um roteiro nessa composição que inicialmente eu não tinha adotado, mas que como em um efeito Eureka eu consegui captar e tentar dar algum sentindo.
O som é como uma alma sendo corrompida. A melodia inicial não soa de todo maléfica, mas deixa a entender que pode ser influenciada. Em um segundo momento, eu coloco uma batida quebrada iniciando a ideia de mudança. Sigo de uma parada na batida e alterno os instrumentos, mas não a melodia como um todo. Gosto de pensar que ali se inicia a batalha moral entre o eu-lírico e o “agente da mudança”
No quarto momento eu retorno à melodia inicial, só que ela já tem um segundo elemento representando a queda da resistência moral do eu-lírico, onde finalmente nos dois últimos momentos da música ele se rende à corrupção da alma e já está apto a cometer as suas avacalhações para com o próximo.
É claro que essa é apenas uma perspectiva minha, nada impede que você ouvinte/leitor/crítico interprete de outra forma. Afinal, essa é uma das principais características da música instrumental, a liberdade de diversas interpretações.