QUADRINHOS – ALINE SIQUEIRA

Ah vilões…

Sejamos honestos, uma história ter bons protagonistas não é nada sem um bom vilão. Ao ser introduzida ao mundo dos quadrinhos fiquei fascinada pelos heróis, pelos seus amigos e interesses amorosos e, também, pelos vilões. É intrigante tentar entender, fascinante até, como uma pessoa é capaz de realizar atos tão questionáveis e inescrupulosos. Algo que foge tanto do nosso normal, algo que você reconhece como errado e ainda assim você quer saber mais sobre eles, você quer entendê-los.

Eu comecei a ler quadrinhos quando eu tinha quatro anos, na época em que minha mãe me ensinou a ler. Quadrinhos da Turma da Mônica. E lá estava o primeiro vilão que eu achava divertido: O Capitão Feio e os seus planos desastrados de tentar poluir o mundo. Planos esses sempre frustrados pelo Cascão – curiosamente o mais ecologicamente preocupado dos personagens da turma. Estórias infantis tendem a ter essas mensagens positivas e ambientalismo é uma das minhas favoritas.

Olhando em retrospecto, é muito curioso que o grande vilão da Turma era alguém movido em destruir o meio ambiente. Similar acontece no Livro O Lorax do Dr. Seuss, onde o personagem título tenta evitar que o Once-ler destrua a natureza e acabe com a vida animal que por lá vive. No caso da Turma, as tramas do Capitão são sempre rechaçadas. O livro, no entanto, tem um desfecho bem mais desanimador.

É curioso eu começar a falar de quadrinhos e vir com Turma da Mônica, mas é a maior referência nacional da arte. E, é claro que se tratando de quadrinhos eles todos começam como estórias para crianças e quadrinhos de super-heróis não fogem à regra.

Ainda pequena, fui apresentada a vários heróis, e o que mais gostei acabou sendo o Homem-Aranha. E como não gostar do personagem? Até sua introdução nenhum herói era tão parecido com o leitor: uma pessoa comum, nerd, com interesses por ciências e um tanto negativo… E dos heróis, o personagem tem uma das mais interessantes galerias de vilões, sempre superada apenas pelos vilões do Batman.

O curioso com o Aranha é o fato do mesmo ter três arqui-inimigos: Dr. Octopus, o Duende Verde e o Venom, sendo o último meu favorito. Acredito que as pessoas que como eu foram introduzidas ao personagem graças a série animada dos anos noventas, tenham um interesse particular pelo personagem, principalmente considerando sua origem. Venom é um simbionte alienígena que se assimila a um hospedeiro, aumentando suas habilidades enormemente, mas também aos poucos destruindo a sua sanidade.

 O interessante em um vilão como Venom é o seu começo como o herói e, também, a sua angustia em manter o controle sobre o simbionte. E assim, o que era para ser apenas uma mudança do traje para o herói tornou-se o seu pior pesadelo. Venom é o espelho do herói, seja ele fundido com Eddie Brock (uma figura mais trágica) ou Mac Cargan (originalmente o vilão conhecido como Escorpião e a encarnação mais sinistra do personagem), ele é a contraparte, aquilo que o herói poderia se tornar se sucumbisse ao poder. Venom é a ação sem escrúpulos, é o impulso desenfreado. É aquele monstro que existe dentro de cada um. Talvez por isso, o personagem tenha se tornado tão popular a ponto de alternar entre vilão, anti-vilão e anti-herói, e ainda assim, ser movido apenas pelos próprios interesses.

Falando sobre contrapartes, vale a pena comentar aqui também o Bane, vilão famoso do Batman. O seu reflexo, alguém que como o herói cresceu com a perda, mas diferentemente do mesmo não teve nenhuma esperança de melhorias. Bane é o que o Batman poderia ter sido, e assim sendo eu sempre tive simpatia pelo personagem. Figuras trágicas me fascinam e sempre me despertam a empatia.

Possivelmente por isso, de todos os vilões de quadrinhos o meu favorito sempre foi o Magneto. Conhecido como Erik Lehnsherr, Magnus ou pelo seu nome de nascença Max Eisenhardt, sobrevivente de um campo de concentração nazista, Magneto é aquele tipo de vilão extremista com boas intenções, o que faz com que ele seja extremamente desconcertante. Como um bom personagem cinzento, sua complexidade, seu posicionamento no universo Marvel equivalente a Malcolm X, faz com que o personagem caia no gosto do povo, o que também mudou sua caracterização.

Originalmente um dos vilões mais fervorosos, o Magneto é verdadeiramente uma figura Byroniana, vestindo seu manto de anti-vilão e fazendo o possível para que mutantes não sofram nas mãos dos humanos como ele sofreu um dia.

Magneto é um personagem que realmente me deixa dividida. Às vezes eu o detesto, às vezes eu o adoro, no entanto, é sempre divertido ler as estórias em que ele participa. E a sua popularidade o faz presente em tudo que seja relacionado aos X-Men: sua nuance, suas intenções, seu idealismo, essa área cinzenta em que o personagem vive o faz deveras atraente.

De fato, esta área cinzenta é bastante comum em um título como X-Men. Muitos dos personagens flutuam entre diversas órbitas, porque no fim, mesmo que suas ações sejam questionáveis, as intenções sempre são bem fundamentadas. Magneto é só o maior expoente disso, Emma Frost também caminha pela mesma estrada. E o melhor: é uma das poucas personagens femininas que abraça sem culpa suas imperfeições.

Falar sobre vilões de quadrinhos é uma tarefa árdua. O que eu comentei aqui é apenas a ponta de um iceberg. Mas personagens nos fascinam por questões distintas. Cada um tem os seus favoritos e tenho certeza que vários leitores vão apontar os seus. Venom e Magneto são apenas alguns dos que me acompanham desde a infância. Magneto ainda mais, quem me conhece sabe da minha, nada vergonhosa, obsessão por X-Men. Bom talvez só um pouco, mas quem nunca teve algo na vida que gostasse tanto assim?

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Aline Siqueira Soares Nogueira, ou como gosta de ser chamada Aline Wonka, é uma artista do cotidiano, graduada em Cinema, apaixonada por arte sequencial seja ilustrada ou em vídeo, vive perdida nesse mundo de estórias de onde nunca sairá.