MAUS ATÉ O OSSO
Embora os heróis sejam o grande chamariz das produções cinematográficas, é nos vilões que se encontra a força de toda narrativa. A sabedoria popular diz que somos moldados pelos nossos desafios, logo os vilões definem os heróis. Provar isso é fácil: lembre-se dos melhores filmes que você viu e, certamente, todos eles devem trazer grandes vilões em suas tramas.
Nós decidimos fazer isso também e compartilhamos agora uma pequena lista com alguns dos mais marcantes vilões de nossos filmes favoritos. Prepare-se, porque a maldade vai imperar a partir das próximas linhas…
FREDDY KRUEGER (A Hora do Pesadelo, 1984)
Quem foi criança nos anos 80, certamente passou a ter medo de dormir quando, em 1984, o cineasta Wes Craven, um dos mestres do cinema de terror, deu vida a Freddy Krueger (interpretado por Robert Englund) em A Hora do Pesadelo. No filme, a criatura sobrenatural invadia os sonhos dos jovens que viviam na Rua Elm e tirava suas vidas. A única solução para fugir do trágico fim era permanecer acordado e descobrir o mistério por trás da série de assassinatos. De aparência repugnante e dono de um sarcasmo de gelar a espinha, Freddy ainda hoje é um dos vilões favoritos dos fãs do gênero.
BIFF TANNEN (De Volta Para o Futuro, 1985)
Ainda com os pés nos anos 80, recordamos o vilão de uma das mais queridas trilogias de Hollywood. Trata-se de Biff Tannen (Thomas F. Wilson), valentão que atormenta a família McFly em diferentes épocas do tempo em De Volta Para o Futuro, de Robert Zemecks. Somos apresentados a Biff quando Marty McFly (Michael J. Fox) acidentalmente volta para o ano de 1955 e encontra seus pais ainda adolescentes, antes mesmo que os dois tivessem se conhecido. Cabe a Marty fazer o possível para que o casal seja formado, garantindo a sua existência no futuro, mas antes precisa impedir que o valentão Tannen atrapalhe o relacionamento, já que ele vive pegando no pé do pai de Marty e é gamado na mãe do viajante do tempo. Embora assustador por conta da força bruta, Biff também tem seu charme, até porque o que ele tem de forte tem também de burro.
DARTH VADER (Star Wars: Uma Nova Esperança, 1977)
Símbolo da maior franquia cinematográfica já produzida, Darth Vader (David Prowse e voz de James Earl Jones) tem tudo aquilo que torna um vilão inesquecível: visual marcante, voz poderosa, força incomparável e uma história trágica. Afinal, o temido Mestre Sith foi antes o herói Anakin Skywalker que, cego pela ganância, cedeu ao lado sombrio da Força e, tomado por ela, passa a ser símbolo do Império Galáctico. Vilões com passados trágicos e bem construídos costumam ser um atrativo. Vader é a prova disso. Muito do sucesso de Star Wars deve-se à presença do personagem nos filmes ou do legado deixado por ele, como bem vemos nos longas da nova trilogia, que será concluída em 2019.
SCAR (O Rei Leão, 1994)
As animações também têm sua cota de caras malvados e um desses caras é, na verdade, um leão: Scar (voz de Jeremy Irons), irmão do soberano das savanas, Mufasa (voz de James Earl Jones), e tio do valente herdeiro Simba (Jonathan Taylor Thomas e Matthew Broderick). Covarde e mal-intencionado, Scar tem desejo por poder e é capaz de tudo para consegui-lo… inclusive matar o próprio irmão. Resultado da soma entre o visual sombrio e a poderosa voz do ator Jeremy Irons (e a inesquecível dublagem em português realizada por Jorgeh Ramos), Scar é, sem dúvida, um vilão de gelar a espinha de crianças e adultos, mesmo formado a partir de lápis e tinta.
MIRANDA PRIESTLY (O Diabo Veste Prada, 2006)
Uma das características mais marcantes em bons vilões é a elegância e disso Miranda Priestly entende. A poderosa editora-chefe da revista de moda Runway, interpretada por Meryl Streep, rouba a cena em O Diabo Veste Prada, ao arrancar o couro de sua assistente, Andy Sachs (Anne Hathaway). No longa de David Frankel, Miranda consegue, ao mesmo tempo, gerar repulsa e simpatia ao não descer do salto na hora de ensinar alguma dura lição à estagiária Andy que, como toda jovem, deseja apenas um lugar ao sol… mesmo que acompanhada do diabo em pessoa!
CONDE DRÁCULA (Drácula de Bram Stoker, 1992)
O vampiro mais conhecido da cultura pop foi representado em inúmeros filmes e teve vários intérpretes ao longo dos mais de 120 anos de cinema. Dentre as versões, vale destacar uma das mais recentes e emblemáticas, entregue pelo vencedor do Oscar de 2018, Gary Oldman. Na belíssima produção dirigida por Francis Ford Coppola, Drácula é guiado pela paixão e, cego por esse tão traiçoeiro sentimento, decide sequestrar um jovem jornalista (vivido por Keanu Reeves) e seduzir a noiva de sua vítima (Winona Ryder), acreditando ser esta a reencarnação de sua amada, Elisabeta. É claro que, na trajetória rumo ao objetivo, o Conde deixa pelo caminho um rastro de sedução, sangue e morte.
NORMAN BATES (Psicose, 1960)
Às vezes, o mal habita onde menos esperamos. Isso define perfeitamente o vilão Norman Bates, imortalizado na tela por Anthony Perkins. No longa dirigido por Alfred Hitchcock, o acolhedor e pacato dono do Motel Bates recebe em sua hospedaria a fugitiva Marion Crane (Janet Leigh) que, ao encontrar refúgio no empreendimento de Bates durante um forte temporal, não imagina a tragédia que a espera. A famosa sequência do chuveiro e o arrepiante desfecho do filme colocam o vilão como um dos mais assustadores e complexos de todos os tempos.
HANNIBAL LECTER (O Silêncio dos Inocentes, 1991)
Este é um caso polêmico: não podemos negar que Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) é um sujeito muito esquisito; no entanto, vilão? Pois bem: por mais que o personagem auxilie, mesmo que de maneira deturpada, a destemida agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster) na captura de um serial killer (e verdadeiro vilão da história), Hannibal é mau, é assustador e com certeza já deve ter protagonizado os pesadelos de muitos cinéfilos mundo afora. E isso faz de Lecter não apenas um grande vilão, como também um grande personagem. Com ele, Sir Anthony Hopkins ganhou o Oscar de Melhor Ator, na edição de 1992. Merecido!
AMON GOETH (A Lista de Schindler, 1993)
O holocausto judeu ocorrido durante a II Guerra Mundial revelou o que o ser humano tem de pior. O genocídio teve muitos rostos e um deles foi o de Amon Goeth, oficial do exército nazista e comandante do campo de concentração de Plaszów, localizado na Polônia. Este monstro foi interpretado magistralmente por Ralph Fiennes, no longa dirigido por Steven Spielberg. Em muitas cenas, testemunhamos as cruéis ordens que Goeth dá aos seus subordinados e nos deparamos com uma desumanidade tão grande, que fica difícil imaginar que algo do tipo tenha acontecido de verdade há alguns anos. A visceral interpretação de Fiennes, bem como a obra de Spielberg como um todo, deveria servir de lembrança para que tamanha barbaridade não se repetisse. Pena a memória da humanidade ser tão curta…
ZÉ PEQUENO (Cidade de Deus, 2002)
Leandro Firmino da Hora deu vida àquele que é, sem dúvida, o mais aterrorizante personagem do cinema brasileiro. Na pele de Zé Pequeno, o ator imortalizou frases de efeito e lembrou aos brasileiros que o problema da violência que assola o Rio de Janeiro nos dias de hoje começou há muito tempo. Obra-prima de Fernando Meirelles, Cidade de Deus é um dos filmes brasileiros de maior sucesso no exterior e muito da admiração está centrada em um dos grandes vilões da história do cinema mundial. Duvido não encontrar uma pessoa que, ao sair da sessão de Cidade de Deus, não tenha voltado para casa com a atenção redobrada no caminho…
Vilões não faltam e esses são alguns dos que marcaram presença em nossos filmes favoritos. Caso tenhamos deixado algum de fora, não seja ruim: compartilhe com a gente e diga por que o seu vilão predileto merece ser lembrado.
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Vanderson Santos (E-mail) é Mestre em Letras, especialista em Análise do Discurso, cinéfilo e fã da cultura nerd/geek. Não dispensa um bom papo, muito menos um bom café.