SELENE – MARCOS PEDROSO

Há 4,5 bilhões de anos o Sistema Solar era um verdadeiro caos, não existia essa configuração atual. Os planetas ainda estavam em formação. A Terra não tinha essas características que tem agora, com oceanos, continentes e atmosfera. O nosso planeta era só um “rascunho” do que se tornaria.

Nessa época havia muitos impactos entre os protoplanetas, pode se dizer que ocorria uma verdadeira “competição” no processo de formação planetária.

Dentre esses impactos, houve um em especial, que mudou toda a história da Terra. Próxima a nossa prototerra havia um corpo com as dimensões do moderno planeta Marte, conhecido como Téia. Em um momento da história cósmica esses dois protoplanetas se chocaram, na verdade um “raspão cósmico” mais forte. Uma parte da Téia se incorporou à embrionária Terra e o restante dos detritos orbitou o nosso jovem planeta.

No entanto, há um “tempero” no universo que faz toda a diferença em tudo que existe, a gravidade.

Por conta da gravidade esses detritos orbitaram a jovem Terra, mas também começaram a se aglutinar formando outro objeto cósmico.

Selene formou-se devido a esse grande esbarrão entre Téia e Terra. No inicio, os dois objetos eram muito próximos, cerca de 50 mil quilômetros. Hoje essa distância é de aproximadamente 384 mil quilômetros.

Essa aproximação no inicio afetava de maneira intensa o oceano primitivo terrestre. O efeito de marés era gigantesco.

O inicio da vida provavelmente se deu nesse ambiente intenso e com a Selene muito próxima.

A interação gravitacional entre Terra e Selene permite que haja a estabilização da inclinação do eixo imaginário de rotação terrestre em relação ao plano da órbita do planeta em torno do Sol. Essa inclinação é cerca de 23,5°, com isso a Terra possui uma variação de temperatura ou energia solar ao longo do ano, mais precisamente a cada três meses.

A ocorrência das estações do ano, resultado das características dessa inclinação terrestre junto com a translação, é fundamental para que haja toda a dinâmica da biosfera que conhecemos aqui na Terra.

A presença da Selene é muito mais importante do que imaginamos. O efeito de marés terrestre acontece tanto nos oceanos quanto nos continentes, porém, são nas águas que observamos mais claramente esse efeito.

Os organismos marinhos “agradecem” a presença de Selene, pois a movimentação dos mares e oceanos ajuda nos processos físicos, ecológicos e alimentares nesses ambientes.

Na mitologia grega Selene é filha de Téia, irmã do deus Sol Hélio e da deusa do amanhecer Eos.  Selene é um dos nomes do nosso satélite natural, a deusa da Lua e suas fases, seu nome deriva da palavra grega “selas” que significa luz e claridade.

A nossa Lua surgiu provavelmente dessa grande “catástrofe” entre Téia e Terra essa teoria é conhecida como grande impacto ou “Big Splash”.

A história do nosso satélite natural está intimamente ligada à formação da Terra e a origem da vida além de estar presente na história e cultura da humanidade. A observação lunar, por exemplo, motivou os primeiros astrônomos a criação dos primeiros calendários.

No início, a visão de mundo que prevalecia era o Geocentrismo onde a Terra era o centro do universo conhecido, tendo os planetas girando ao seu redor. Nessa realidade os corpos orbitavam a Terra em círculos perfeitos inclusive os planetas conhecidos: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno eram esferas perfeitas, assim como a Lua e o Sol. Isso era reflexo da presença forte da religião.

No entanto, houve pessoas que não se contentaram com as visões fantásticas do mundo, mas se atentaram a questões práticas.

O grande cientista Galileu Galilei no inicio do século XVII aperfeiçoou um instrumento que revolucionaria a astronomia, o telescópio.

O telescópio foi inventado para observação marítima, porém o curioso Galileu apontou esse magnifico instrumento para o céu. Além de alguns objetos celestes, ele observou a Lua. E ao fazer isso ele identificou que Selene possuía buracos ou como preferir, crateras. Essa descoberta só fortaleceu a ideia de que os astros no céu não eram esferas lisas e perfeitas, pelo contrário, apresentavam irregularidades. Ao estudar a Lua e outros astros, Galileu contribuiu para a quebra de paradigma enfraquecendo a visão Geocêntrica e dando cada vez mais espaço para a visão de mundo Heliocêntrica onde o Sol estava no centro do universo conhecido da época.

A Lua foi personagem em diferentes palcos e conquistas na ciência, desde a determinação das distâncias entre o Sol, Terra e Lua no século III a.c. com Aristarco de Samos, como na teoria da relatividade de Einstein no século XX.

Em seus sonhos mais profundos o homem sempre quis conhecer de perto o mundo de Selene. O astrônomo Johannes Kepler escreveu o livro Somnium (1634), um dos primeiros livros de ficção científica. Nesse trabalho Kepler contou a história relacionada a uma viagem lunar.

O escritor francês Júlio Verne em (1865) publicou o livro De la Terre à la Lune em que contava e descrevia uma viagem a Lua. O livro conta que uma empresa norte americana lançou um artefato direto da Flórida. Essa “nave” era desacoplável e comportava três astronautas. Depois da missão todos eles eram resgatados de um módulo que caíra no oceano.

O incrível desse livro é que 104 anos depois, em 1969, três astronautas saídos do cabo Canaveral na Flórida foram até a Lua em uma nave desacoplável e depois foram resgatados no oceano.  Nessa missão o astronauta Neil Armstrong foi o primeiro ser humano a caminhar na superfície lunar.

A conquista de Selene enfim foi alcançada. O homem nunca tinha ido tão longe. A presença humana na Lua mostrou a grande capacidade e inventividade que os seres humanos podem alcançar.

Observar e estudar a Lua nos mostrou o quão o nosso satélite natural é importante, além disso, no futuro é muito provável que a presença humana seja frequente na superfície lunar, assim Selene continuará fazendo parte de nossa história.