COLUNA FRIDA
POR VIVIANE BECCARIA
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“Se eu pudesse lhe dar alguma coisa na vida, eu lhe daria a capacidade de ver a si mesmo através dos meus olhos. Só então você perceberia como é especial para mim.” 1
O mundo precisa olhar para os grandes feitos de mulheres extraordinárias. Frida Kahlo é um grande exemplo dessas figuras que lutam bravamente, para sobreviver, dar voz ao seu povo e reverenciar a arte.
Frida foi uma artista reconhecida mundialmente pelos seus deslumbrantes trabalhos, mas seu talento não surgiu de uma maneira suave. Pintou para sobreviver, para não enlouquecer diante das rasteiras que a vida lhe proporcionou. Suas obras eram uma afirmação da identidade do povo mexicano, com temas pertinentes ao seu folclore.
Kahlo foi além, politicamente engajada, lutava por uma sociedade mais justa e igualitária, sendo considerada “filha do México revolucionário”. Em contrapartida, sua essência apresentava dualidade: ao mesmo tempo em que se mostrava uma mulher convicta de seus ideais e de personalidade forte, apresentava-se intimamente como uma mulher emocionalmente carente, à mercê de um relacionamento abusivo ao lado de Diego Rivera.
Muitas mulheres se identificam com sua imagem, fazendo com que ela se tornasse símbolo das lutas feministas. E isso não é em vão: a sociedade atual vive um momento conflituoso, com extrema dificuldade em entender o que é o movimento fortíssimo que reconfigura totalmente nossos papéis sociais.
Quais são os nossos papéis? O que devemos buscar para ter nossas vozes escutadas e respeitadas? Quais são os caminhos a percorrer nessa jornada? Esses questionamentos são perfeitamente levantados ao olharmos para a vida e obra dessa extraordinária artista, que tinha uma alma destemida e, ao mesmo tempo, despedaçada.
“Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como o gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.” 2
As mulheres nunca tiveram um momento tão favorável à transformação. Uma mudança necessária para que todos tenham liberdade de ser o que verdadeiramente são. Sejamos o que nosso espírito induz, o que nossa essência diz, sem nos preocuparmos com que o outro aponta, julga e castra.
Que sejamos protagonistas de nossas histórias, realizando nossos desejos, não importando quais sejam esses, conquistando uma vida sem classificações e rótulos. Que homens e mulheres tenham liberdade na escolha de suas funções, daquilo que almejam!
Sejamos mais Frida, aquela que luta contra os padrões, contra si mesma, buscando encontrar o seu lugar, o seu papel, enfim, ser o que é. Que nossa dualidade seja compreendida e que o diferente seja o que complementa, jamais o que nos separa. Somente por essa direção, seremos reconhecidas e retratadas na História como transformadoras da trajetória humana.
“Eu pinto minha própria realidade. A única coisa que sei é que pinto porque preciso e eu pinto tudo que se passa em minha cabeça, sem maiores considerações.” 3
Que tenhamos a liberdade de dizer o que passa em nossas cabeças, que possamos pintar a nossa realidade, que tenhamos asas para viver intensamente, livremente, completamente.
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1, 2 e 3 são citações de Frida Kahlo.