QUAL É O SEU PADRÃO?

COLUNA FRIDA

POR VIVIANE BECCARIA

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Quando o assunto é beleza, a sociedade ocidental atua de uma forma que beneficia os padrões impostos pelo patriarcado europeu. No Brasil não podia ser diferente.

Desde a época da colonização, somos induzidos a acreditar na ideia de que as características caucasianas devem ser exclusivamente admiradas e almejadas. Essa sugestão foi inserida aos nossos costumes de forma proposital e subconsciente, com o intuito de provar que os europeus eram seres superiores a qualquer outra civilização.

Portanto, se qualquer indivíduo não estiver de acordo com a referência europeia de beleza, ele está fora dos padrões e acaba sendo marginalizado pelo grupo ao qual pertence. A palavra “marginalizado” pode soar um pouco forte, mas é a única que pode ilustrar o sentimento que pessoas que sofrem com esse tipo de abordagem possuem.

A busca pelo corpo ideal atinge homens e mulheres, porém, a pressão social recai mais fortemente sobre as mulheres, que são bombardeadas direta ou indiretamente com sugestões de que elas devem buscar a “perfeição” a qualquer preço. Observando a oferta de tratamentos estéticos, nota-se que em noventa por cento dos casos, o público alvo das divulgações é o feminino. Mas por que esse fenômeno ocorre?

Isso ocorre como mais uma manobra para inferiorizar a mulher e estabelecer um papel específico dela na sociedade: ser adorno e objeto sexual. Como os homens (salientando que eles também são vítimas do machismo, muitos ainda não perceberam isso!) são condicionados a serem visuais, usando o apelo físico para determinar a sua atração pela parceira, força-se a ideia de que as mulheres devem sempre estar no padrão estabelecido pelo seu parceiro, correndo o risco de perdê-lo para a concorrência.

Esse paradigma social concorre para a diminuição da autoestima da mulher, ela nunca se achará digna de afeição se não estiver imaculada, perfeita aos olhos de seus “admiradores”.

Deve ser lembrado que um dos fundamentos dos movimentos em defesa da mulher baseia-se na liberdade de todos os indivíduos, em outras palavras, temos que ter a consciência da autonomia em escolher qual é o nosso padrão. Além disso, a autoestima deve ser alcançada respeitando o desejo de como cada um quer se apresentar ao mundo: gordo, magro, cabelo crespo, cabelo alisado, depilado, peludo, com tatuagem, com piercing, não importa. As características físicas de uma pessoa compõem a sua identidade, não é uma forma de querer agradar os olhos do outro.

O meio em que estamos inseridos vive um momento de extrema superficialidade. É de grande importância a busca pela essência humana e, quando isso ocorrer, perceberemos que as diferenças e especificações são os que mais nos caracterizam como humanos. A transformação dos padrões faz-se necessária.

Certa vez, deparei-me com uma pesquisa na qual apontava que um dos desejos que as pessoas (de qualquer gênero) mais possuíam era o de ser amados. Como queremos ser amados? Será que é pelo que temos? Pelo como nos apresentamos? Ou pelo que nós somos? Tudo isso me fez refletir sobre a vida: nós buscamos aceitação, fazer parte de grupos, encontrar nossos pares, na busca pelos vários tipos de amores. Mal percebemos que o que nos diferencia nos complementa e que somos seres em constante evolução e transformação. Somos incríveis em nossas imperfeições. Assim como uma querida professora em uma aula disse que “só é perfeito quem já morreu”.

Que as mulheres encontrem os seus próprios padrões, alcançando o livre-arbítrio de ser o que desejam, por elas e para elas, pois um modelo de beleza pré-estabelecido mutila, incapacita, enjaula, impedindo de mostrarmos ao mundo o melhor que temos a oferecer.

 

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Ilustração: Tarsila do Amaral