COLUNA FRIDA
POR VIVIANE BECCARIA
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“Acho que minha forma de estar no mundo é contando histórias. É o que me deixa mais feliz”1.
Chimamanda Ngozi Adichie é uma das mais importantes e influentes escritoras da atualidade. Além de ter uma escrita singular, Chimamanda é uma das vozes do Feminismo moderno.
Suas obras abriram caminhos para que a literatura africana tivesse visibilidade em escala mundial, atingindo públicos mais populares. Isso é de grande importância para discutirmos sobre o valor da cultura africana em nossa sociedade e o quanto é necessário nos aprofundarmos mais sobre a história desse continente.
A representatividade de Adichie é fundamental para o fortalecimento do movimento feminista, pois seu lugar de fala e forte posicionamento representam a verdadeira essência dessa ideologia. Sua icônica palestra “Sejamos todos feministas” é uma incrível aula sobre como a sexualidade e os gêneros são construídos.
“O problema com a questão de gênero é que ela dita como nós devíamos ser, ao invés de reconhecer como nós somos. Imagine como seríamos mais felizes, o quão livres seríamos para sermos nós mesmos, se não tivéssemos o peso das expectativas de gênero”2.
Seu primeiro romance Hibisco Negro mostra o quanto a escritora anseia por levantar pontos importantes sobre como os indivíduos se enxergam e estão inseridos em seu meio, expondo a importância da revisão e transmutação da essência humana.
Chimamanda aborda assuntos que geram desconforto ao senso comum, abrindo importantes discussões, não somente nos meios sociais, mas também acadêmicos. Em seu terceiro romance, Americanah, temas como: racismo, a representatividade feminina e a migração, são questionados fortemente, tornando-se um manifesto, um protesto.
Esses pontos fundamentais são também apontados em outra aclamada palestra denominada “O perigo de uma história única”, na qual é levantado o estereótipo que a sociedade ocidental tem sobre a cultura africana.
“A história sozinha cria estereótipos, e o problema com estereótipos é que não é que eles não são verdadeiros, mas que eles são incompletos. Eles fazem uma história se tornar a única história.”3
Socialmente engajada, a escritora nigeriana faz questão de lembrar sua audiência e seus leitores de que não tem o menor interesse em teorias anacrônicas sem fundamentos impostas por uma sociedade determinista e sim, quer retratar o mundo exatamente como ele é, de forma com que as pessoas percebam o quanto ainda estamos longe da evolução.
Todos os seus livros são obrigatórios para aqueles que apreciam a Arte como forma de manifestação. Em Meio Sol Amarelo, livro aclamado que se transformou em um premiadíssimo filme, as questões de raça, classe e o fim do colonialismo em uma singela homenagem à Biafra são retratados acerca de uma instigante história que gera a reflexão sobre como as relações humanas são complexas.
A incrível arte de contar sobre a vida de uma forma emocionante, ao mesmo tempo revolucionária, faz de Chimamanda Ngozi Adichie uma escritora além de seu tempo e uma cidadã consciente de seu papel transformador em um momento de grande importância da História Moderna.
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1, 2 e 3 são citações de Chimamanda Ngozi Adichie.