COLUNA NO MEU TEMPO
DOUGLAS MOREIRA
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Ao infinito… e além!
Definitivamente, esta é a minha frase do ano!
E não tem, em absoluto, nada a ver com trabalho, superação de limites, o que quer que seja. Essa frase do nosso querido Buzz Ligthyear não sai da minha cabeça desde que Filippo, com seus 3 anos e meio, descobriu Toy Story. Provavelmente, devemos ter assistido algo em torno de 300 vezes cada um dos filmes que compõe a trilogia.
A ideia aqui não é fazer crítica ao filme, falar sobre suas inúmeras qualidades ou alguns contáveis defeitos, nada disso. Quero falar sobre algo que passou a me intrigar desde que fui perguntado pelo Filippo sobre o tema: “Pai, o que é o infinito?”.
Há milhares de formas de se explicar o infinito à uma criança! E obviamente nenhuma dessas milhares lhe vem à cabeça quando a pergunta bate à sua porta! Aprendi com a minha esposa a não ficar procurando a resposta mais profunda, a explicação mais visceral, o sentido vertical das coisas, quando Filippo me questiona sobre uma situação ou uma palavra nova. Aprendi com ela que o ideal é tentar explicar o que ele pergunta dentro do contexto em que as dúvidas estão inseridas e se apresentam a ele. Por exemplo: ensinamos a ele que falar “Cala a boca!” para alguém não é legal, dentro de um contexto mais amplo. Porém, no filme “ET”, (CUIDADO – SPOILER) no momento em que Elliot percebe que nosso querido extraterrestre não está morto (aliás, muito ao contrário, está vivíssimo e pronto para ser resgatado), na tentativa de que ET pare de tagarelar, Elliot manda um sonoro “Cala a boca!”, para que ninguém perceba a nova situação e o pequeno intergaláctico não corra o risco de não ser resgatado pelos seus. Ao assistirmos a cena juntos, não deu outra! “Pai, o Elliot falou cala a boca!”, “Porque o Elliot falou cala a boca, papai? Ele não sabe que não é legal falar cala a boca?”
Já com os ensinamentos de minha querida wife, incutidos dentro dessa minha cabecinha ovalada, fazendo efeito, fui explicar ao filhote a diferença entre aquele “cala a boca”, de cuidado, de preocupação que não fossem descobertos, para um “cala a boca” mais tosqueira, daquele utilizado em discussões acaloradas. Ele compreendeu e aprendeu nesse dia que a vida não é tão literal. Começou a aprender, à sua maneira, que a vida é nuance.
Voltando ao infinito, desde E.T., alguns temas passaram a fazer parte intensa do nosso cotidiano: espaço sideral, planetas, estrelas, buraco negro, oxigênio, Marte, Saturno, nave espacial, astronauta… Filippo está encantado com o céu e suas nuances. Acho que esse deslumbre vem do fato de no céu caber tanta coisa! Como pode? Cabe sol, cabem planetas, cabem as nuvens, cabe neve, cabem as naves espaciais e ainda por cima é infinito! E não tem teto nem chão! E ainda temos o buraco negro que suga tudo isso e te leva para um outro espaço onde cabe tudo isso e sabe-se lá mais o quê? Por que, quando crianças, o céu e o espaço nos são tão atraentes?
Chego à conclusão que porque ambos se assemelham. O que cabe no espaço? O que cabe na imaginação de uma criança? Tudo.
Eu tenho, com muito carinho na minha memória, a lembrança de uma chuva de meteoros que vi com meu pai, deitado no chão do quintal da casa onde morávamos, quando eu não tinha mais de 4 anos, lá nos queridos anos 80… Nós perdemos com o tempo a capacidade de nos impressionarmos com algumas coisas e isso é absolutamente normal. Triste, mas normal. A vida vai crescendo e pesando dentro e ao redor de nossos corpos, as tarefas do dia a dia começam a se fazer presente de forma ininterrupta e o brincar, o imaginar, vão ficando guardados num canto da nossa alma, até que nos tornemos pais e essas gavetas empoeiradas se abram novamente e lá de dentro saiam cheiros, sensações, emoções que um dia foram tudo o que você teve e que te fez ser quem você é hoje. A massa que nos compõe é feita de cada pedaço de vida que nos acompanha desde o primeiro momento e que, embora o tempo faça questão de comprimi-la, ela está lá, aguardando o momento em que será insuflada de novo oxigênio para se expandir novamente e nos dar por algum tempo aquela sensação anestésica do sopro inicial, o sopro da vida.
Lembrar daquela chuva de meteoros num momento em que meu filho está deslumbrado com o céu e suas possibilidades fez algo esplêndido acontecer: me possibilitou viajar no tempo. Consigo sentir o friozinho daquela madrugada, a sensação de sono que tive ao deitar no chão duro de cimento às 3 horas da manhã aguardando a tal “chuva”…, lembro de sorrir e sentir o coração acelerar ao ver a primeira estrela rasgar o céu, lembro de ficar encantado ao ver centenas cruzarem a escuridão bem à minha frente… Lembro de ali, naquele momento, ser plenamente feliz.
Me emociona ver os olhos do meu pequeno vigiando o céu pela janela do carro enquanto vamos para a escola e ouvi-lo chegar à conclusão de que ali, por aqueles espaços azuis de infinito entre as nuvens, talvez seja mais fácil de se chegar ao além, afinal, “as nuvens tem muita fumaça e atrapalham”.
Meu filho, da mesma maneira que adora ver os mesmos filmes incontáveis vezes, como qualquer outra criança, também adora fazer a mesma pergunta tantas outras incontáveis vezes, talvez na esperança de uma resposta diferente, uma que contenha nuances… Ultimamente, quando ele me pergunta “O que é o infinito papai?”, eu sempre lhe respondo: “O infinito é como a sua imaginação filho, um lugar que cabe tudo o que você quiser”.