PLUTÃO NO SUBMUNDO

Coluna Sidereus Somnium

Por Marcos Pedroso

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A contemplação dos astros é uma prática que está presente desde os primórdios da humanidade, observar a dinâmica celeste auxiliou os povos antigos na elaboração dos primeiros calendários, foi “palco” para a criação das mitologias e histórias sobre a origem do universo chamado de cosmogonias.

Além das estrelas e constelações os primeiros astrônomos observavam objetos celestes que possuíam “comportamento” diferente das estrelas. Os gregos chamavam esses objetos de errantes, os babilônicos chamavam de Bibbus que significa “carneiros selvagens”, isso porque esses corpos assumiam posições irregulares no céu ao longo dos meses.

Esses “vagabundos celestes” eram os planetas. Cinco deles já eram conhecidos desde a antiguidade sem a necessidade da utilização de equipamentos ópticos. São eles: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

No século XIX o astrônomo William Herchel, com ajuda de um telescópio, identificou o planeta Urano, e através de cálculos matemáticos o astrônomo francês Urbain Le Verrier descobriu o planeta Netuno.

Em 1930 o astrônomo norte-americano Clyde Tombaugh, através de observações sistemáticas e cálculos matemáticos, identificou o nono planeta do Sistema Solar. Ele foi batizado em homenagem ao deus romano dos mortos e do submundo, Plutão. A sugestão foi dada por uma garotinha inglesa de 11 anos, Venetia Burney.

Por muitos anos, Plutão fez parte do grupo de planetas que orbitam o Sol, porém em 2006 ele “perdeu” o status de planeta.

No conceito astronômico atual são necessárias três características para um objeto celeste ser considerado planeta: é necessário ser esférico; orbitar uma estrela e ser dominante em sua orbita.

Putão possui os dois primeiros requisitos planetários, porém o terceiro ela não tem, pois não é dominante em sua orbita. Isso significa que ele, apesar de ter corpos que orbitem ao seu redor, ou seja, luas, não tem domínio gravitacional na região onde orbita o Sol.

Todos os outros planetas do Sistema Solar são dominantes em suas órbitas, qualquer objeto que esteja no caminho destes planetas, será submetido gravitacionalmente por eles.

Por esse motivo, em 2006 a União Astronômica Internacional reclassificou Plutão como planeta anão.

Essa designação causa muita confusão, pois muitas pessoas acham que tal mudança deu-se pelo fato de ele ser pequeno. De fato, Plutão é pequeno, menor até que a lua terrestre, mas na verdade esse não foi o motivo.

Esse planeta anão, símbolo do deus do submundo, possui luas ao seu redor, uma das mais famosas é Caronte.  Na verdade, Caronte é somente um pouco menor que Plutão, e esses dois mundos possuem uma “íntima” relação gravitacional e são considerados um sistema binário planetário.

Na mitologia, Caronte é o barqueiro que leva as almas dos mortos através do rio Archeron em sua embarcação estreita, feia e com aspecto fúnebre. Para ter o direito a atravessar o rio da morte com o barqueiro do inferno, era preciso que os familiares colocassem dinheiro na boca do defunto para que Caronte autorizasse a travessia do morto.

Plutão possui mais quatro luas: Hidra, Nix, Estige e Cérbero.  Nix é a deusa da escuridão e mãe de Caronte, já Hidra é um monstro de nove cabeças. Estige é uma referência a uma ninfa e também a um rio infernal que existe no submundo de Plutão, já Cérbero é uma criatura com duas cabeças.

Nix e Hidra possuem as iniciais da sonda New Horizons que visitou Plutão em 2015. Esse equipamento registrou as primeiras imagens detalhadas deste planeta anão e de sua lua Caronte.

As observações da New Horizons mostraram que o mundo do deus dos mortos possui características muito interessantes. Foi identificado uma grande variedade de terreno em sua superfície. O que chama atenção é que existe uma região em destaque na superfície de Plutão que muitos associam a imagem de um coração, esse local é chamado de Sputnik Planitia, em homenagem ao primeiro satélite artificial lançado ao espaço. Na região da Sputnik Planitia há uma homenagem ao Brasil, pois existe uma “ilha” ou elevação, chamada Coleta de Dados, uma referência ao primeiro satélite brasileiro.

O que se observa em Plutão é uma atividade geológica mostrando ter indício da presença de criovulcões – vulcões gelados – que expelem substâncias voláteis como amônia, indicando que é um mundo bem ativo. Há suspeitas também que haja um oceano no subsolo deste mundo distante e gelado.

Por mais que Plutão não tenha mais o “status” de planeta, isso não impediu que a New Horizons mostrasse a complexidade e a grandiosidade do mundo “dominado” pelo deus dos mortos e no futuro saberemos muito mais sobre ele.