Quando tive o privilégio de conhecer minhas raízes, não visualizei a menor possibilidade de não me apaixonar. Saber onde está o início de sua história é uma experiência enriquecedora e gratificante.
Até poucos anos atrás, quando se falava sobre a mãe África, imagens de escassez e pobreza eram automaticamente associadas a ela. Aprender sobre a riqueza cultural e histórica desse continente contribuiu para gerar uma dualidade dos aspectos da região, apesar da ciência da precariedade que é obvia, é acalentador saber que somos maiores que a imagem rasa que foi ilustrada por muito tempo.
O bater dos tambores, o cantar dos corais e o som da Natureza fazem alimentar minha alma e aquecer meu coração. A Literatura e a cultura, rica em detalhes e sensações, levam-me para um lugar tão incrível e belo, porém totalmente injustiçado.
A injustiça que o povo negro carrega é a mesma dor dos reis, rainhas, princesas e príncipes que tiveram suas raízes arrancadas e seu passado apagado. Um passado e um presente com tantas nuances e olhares que nos complementam e nos ensinam.
Não há como não se apaixonar pela África de Chimamanda, de Mandela, de Ratsimandrava, de Machel, todos que nos levam à reflexão e impulsionam nossa revolução. Não há como ficar indiferente com as mazelas que assolam um território explorado por povos gananciosos e egocêntricos.
Que eu possa ter a oportunidade de conhecer melhor a minhas origens, pois tenho a convicção de que nossa essência se encontra em nossas raízes. Minha individualidade e minha identidade ganham importância quando tenho uma consciência maior da minha História.
sou África…
de olhos brancos
Que sente nos poros
A nascença da humanidade
Vidas do transacto tempo
Que nascem do rio da minha respiração
África sou
Meu pretérito ferido pela escravidão
Meus olhos com sonhos da imensidão
Outrora fustigada pela solidão
Sólida hoje, viva na vida dos meus filhos
África rasgada em lágrimas na então esfera
Renascida e cheia de esperança
Em meu ventre…
frutos da minha perseverança
Sou mãe…
pois ofereço a atmosfera
Bela e cheia de corres da natureza
Colorida de águas, banhada de infância
África de bela beleza
Sou África
Poema de Énia Stela Lipanga
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Viviane Beccaria (e-mail) é mãe coruja, professora e filósofa de botequim. Formada em Letras pelo Mackenzie e especialista em Língua e Literatura Inglesa. Apaixonada por cultura em geral (pop, cult, trash) e fascinada por música, tem uma trilha sonora (e um tema!) para todos os seus dias. Conte com ela para tomar aquela cerveja e conversar sobre o sentido (ou a falta dele) da vida.