COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE

COLUNA PITACOS

LETICIA SANTOS

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Olá, amigos, voltei essa semana para falar sobre um dos livros mais doces e deliciosos já escritos no mundo: Como Água para Chocolate, da Laura Esquivel, que é um deleite em todos os sentidos para minha alma apaixonada por livros e comida.

A primeira vez que ouvi falar da obra foi quando meu professor de espanhol nos apresentou a versão adaptada para filme, que pasmem, é tão boa quanto o livro, recomendo fortemente. Ler a obra de Esquivel é como mergulhar numa das paixões que movem a humanidade desde o início dos tempos: a comida.

Tita, nossa protagonista sofrida e encantadora, cresceu agarrada na barra das saias da empregada da família, a mulher que a ensinou que cozinhar é mais do que misturar ingredientes, que é um ato de amor e de paixão. Nesse livro, aprendemos que preparar uma comida é um ato que envolve entender para que usar cada ingrediente, e como os sentimentos da cozinheira influem – hilariante, às vezes – no resultado dos pratos.

O romance que se desenvolve nas páginas do livro, que não é tão grande como eu gostaria, nos dá uma sensação agridoce. Minha única reclamação é que a Tita tinha que amar o embuste maior do livro. Sério, dá um desgosto de azedar leite quando leio de novo e fico torcendo toda vez para ela mudar de ideia e aceitar o amor do cara legal.

O enredo do livro é um drama digno de novela mexicana, porque envolve amor eterno pelo marido da irmã e uma mãe horrível capaz de deixar Nazaré Tedesco no chão de tão ruim que a mulher é. Quem leu ou ler poderá atestar minhas palavras. Tita é uma gata borralheira do México, uma das três irmãs que fica em casa cuidando da mãe quando ela envelhece, assistindo o amor de sua vida se casando com a irmã. E o que é realmente encantador nessa obra é ver como Tita evoluiu ao longo do livro, ela amadurece e sua paixão pela culinária só aumenta.

A comida e os pratos preparados nessa obra – cujas receitas estão registradas no livro – são uma expressão de paixão, mais do que alimentar, os pratos cuidam das pessoas, pois o processo de preparação da comida tem muito mais a ver com os sentimentos empregados para temperar os pratos. A mágica que acontece na cozinha de Tita era capaz de passar para seus comensais as sensações deliciosas de uma comida preparada com alegria – ou levá-los às lágrimas, dependendo de como ocorreu a preparação.

Lendo Laura Esquivel nessa obra, somos capazes de provar a paixão com a qual os mexicanos pensam em comida; conhecemos através das sensações e descrições de Tita como os temperos fortes e os sabores marcantes são usados para exacerbar sentimentos e combinar com as paixões e dramas dos personagens. E, uma das coisas mais fascinantes é que a preparação do prato sempre está ligada ao que está acontecendo no enredo, combinando as sensações e os pensamentos de Tita com o ato de cozinhar, entrelaçando sua incrível paixão pela cozinha com sua revolta, seu amor, seu sofrimento silencioso.

Esse livro ensina mais que receitas, nas páginas de Como Água para Chocolate vemos como cozinhar é uma das maiores paixões que alguém pode ter, e que os pratos típicos de uma nação carregam mais do que mecanismos de cozimento, mas também a história de seus ancestrais. Comida e literatura, o que mais alguém pode pedir?