COLUNA FRIDA
POR VIVIANE BECCARIA
*
A maternidade é um assunto complexo e variável na vida de uma mulher. O que aprendi, ao longo de minha jornada como mãe, é que ela não é fundamental para a confirmação social de nenhuma mulher.
Para mim, ser mãe tem sido uma árdua e transformadora missão, na qual muitas coisas em meu caráter foram aprimoradas. Em outras palavras, tornei-me uma pessoa um pouco melhor depois que meus filhos vieram a esse mundo.
Porém, acredito que existem milhares de outras coisas que podemos experimentar nessa vida que podem nos transformar em pessoas melhores, também tenho certeza que a maternidade piorou a vida de muitas mulheres. Pode parecer que essa última afirmação tenha sido muito cruel para alguns, mas essa tem sido a realidade daquelas que se tornaram mães única e simplesmente graças à pressão social que sofreram.
Ninguém deveria ser obrigado a trazer novos rebentos a esse mundo. Eu mesma me questiono diversas vezes se eu fiz a escolha certa para meus pequenos, pois tenho plena consciência de como a humanidade está caminhando para o abismo. Infelizmente, inúmeras são as pessoas que são cobradas a terem filhos, como se fosse o único caminho possível para encontrar a plenitude.
Certa vez, quando tive meu primeiro filho, uma amiga me perguntou como eu estava me sentindo ao me tornar mãe. Eu afirmei que tinha dado um novo sentido na vida e que finalmente tive a certeza de que minha vida valia a pena (cheguei a essa conclusão após receber alta do meu tratamento para depressão pós-parto, ou seja, demorou muito!). Posteriormente, eu descobri que essa amiga estava planejando engravidar para salvar seu casamento, porém, ela não o fez (obrigada, Universo!) e acabou assinando a separação meses depois de nossa conversa.
Esse é um dos vários exemplos que eu poderia pontuar sobre a visão distorcida que nós podemos ter sobre esse assunto. As mulheres são constantemente convencidas de que só encontrarão a felicidade e serão consideradas bem-sucedidas quando tiverem a milagrosa experiência de fazer bebês. E esse ponto influencia outras posturas com relação ao seu corpo e suas decisões, principalmente em torno de sua sexualidade.
Precisamos ter uma postura mais acolhedora em relação a nós mesmas. Não deveria ser aceitável julgar mulheres que não querem ter filhos como levianas ou egoístas. Também não é legal dizer a quem está enfrentando dificuldades em lidar com a nova realidade de ser mãe que ela tem que viver feliz e saltitante pois é uma experiência maravilhosa (não é!) e que ela escolheu viver esse momento (nem sempre ela escolheu!).
Quando tive meus dois filhos, lembro-me que fiquei desesperada, sem um rumo para minha vida. Senti-me completamente solitária, pois todos à minha volta pareciam estar plenos com a chegada dos bebês, mas eu não estava, eu não tinha planejado a concepção de nenhum deles, pois sofria uma pressão psicológica fortíssima de que se eu me prevenisse, talvez ficaria estéril e jamais poderia ter filhos. As pessoas ao nosso redor podem ser muito cruéis quando desejam o nosso “bem”. Porém, após muito amadurecimento pessoal e ajuda profissional, hoje eu não vivo sem eles e sinto um amor que não é desse mundo. Meus filhos são tudo para mim!
Mas, volto a salientar que a experiência da maternidade é individual! Cada qual deve ter bem claro qual é o seu posicionamento em relação a isso. Além disso, não devemos responsabilizar uma criança pela nossa felicidade. Nesse plano, há diversas paixões e amores que podemos ter, cabe a cada um encontrar seu caminho da plenitude, com ou sem filhos!