eu quero a explosão, a antítese, a esquizofrenia desenfreada que dilata e retorce toda essa visão quadrada e empobrecida que nos é empurrada goela a baixo. eu quero toda a paleta de cores misturadas, sem nenhum sentido, cheia de incongruências e erros de estética e moda. eu quero subverter o belo até que o feio seja aplaudido de pé e ovacionado, e faça lágrimas caírem por ele. eu quero o sol na noite e a lua no dia. eu quero um jantar romântico no meio de um tiroteio, quero acender uma vela e rezar pra mim mesmo, quero subir tão alto até chegar embaixo novamente. e quero não saber de tudo e gozar do prazer de não opinar. na verdade, quero opinar sobre todos os assuntos, até mesmo os que eu não tenho o menor conhecimento, e depois pintar nas paredes da humanidade o inverso do que eu disse. eu quero escrever livros sem palavra alguma, e gritar silêncios no meio de sessões de cinema. eu quero abrir o corpo e acreditar que em vez de ossos e vísceras, na verdade somos formados de poemas e confusões. e eu quero, ao mesmo tempo, o contrário de tudo isso que escrevi aqui. por que querer não é poder. na verdade, no meu universo tosco e em formação interminável, o Querer pega o Poder pelo colarinho e o esmurra até ele concordar em me ajudar. o meu Querer é foda.
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Laís Reis (Facebook), nascida em São Bernardo do Campo em 1989. Tem formação em Letras, Português e Latim Clássico, pelas Universidades de São Paulo e Coimbra. É poeta e proprietária do canal do Youtube Deslise. Participou da Cooperativa da Invenção: Poesia e Tecnologia na Casa das Rosas (2017) onde realizou a performance Estigmacão, que tratava da situação dos moradores de rua. Publicou “Faixa 2” (poema Ctrl Golpe) na revista Ctrl+Verso (giostri 2017) e recebeu o prêmio de melhor vídeo-poema no concurso Desvairada de Poesia 2017, com o vídeo “Poema de Verão”.
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Texto extraído do livro Todo poeta mente sinceramente: vinte e poucos poemas mal escritos. (Edição experimartesanal, 2016), com autoria de Marcus Cardoso.
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