LUA DE SANGUE – MARCOS PEDROSO

Se fizermos um exercício mental e imaginativo voltando no passado há 2.000 anos, em uma bela noite de Lua cheia, poderíamos ter a sorte de presenciar algo muito interessante, um fenômeno astronômico formidável. A lua se tornaria vermelha no céu e assim permaneceria por um tempo. Ao se deparar com as pessoas que viviam nessa época, perceberíamos o temor em seus olhares, pois tal fato significaria uma coisa para eles: algo de ruim estava acontecendo!

O céu, muitas vezes, expressava o descontentamento dos deuses, e fenômenos como essa Lua sangrenta era um desses sinais divinos. A esfera celeste se tornava a grande tela de cinema desses povos. Muitas vezes, os acontecimentos eram verdadeiros filmes de terror!  Não é de se estranhar que muitos morreram por consequência dos acontecimentos celestes.

O episódio que causava tanto espanto aos povos do passado, era na verdade um fenômeno astronômico muito comum de acontecer, devido a interação orbital entre Sol-Terra-Lua: o eclipse.

Neste caso o que aconteceu foi o eclipse lunar total ocasionando a vermelhidão do nosso satélite natural.

Óbvio que é compreensivo que esses povos sem ter os conhecimentos cientificos que temos hoje em dia, buscavam as respostas de tais acontecimentos em suas crenças mitológicas, pois suas vidas cotidianas eram atreladas a essa maneira de ver o mundo.

Com o passar dos anos, o homem conseguiu desvincular as mitologias e as religiões dos fenômenos astronômicos e passou a observá-los e analisá-los de maneira racional e científica.

Hoje sabemos que a Terra não é o centro do universo, e que junto com os outros planetas ela gira em torno do Sol – uma estrela formada por gases. Sabemos também que a Lua é o satélite da Terra e que gira em torno do nosso planeta.

Aliás, a Lua está intimamente ligada à nossa história, pois a observação de suas fases e seu movimento em torno da Terra ajudou a formar os primeiros calendários.

Já pararam para pensar nos meses do ano?

Essa divisão dos meses foi criada provavelmente pelos sumérios na Mesopotâmia por volta de 2700 anos a.c. Esse calendário tinha relação com o ciclo lunar de 28 dias. Esse período corresponde ao tempo que o nosso satélite gira em torno da Terra.

Sabemos que o nosso planeta realiza a translação em torno do Sol, assim podemos imaginar a Terra varrendo uma área ao redor da nossa estrela, compondo a órbita terrestre. A Lua também varre uma área em torno da Terra, esta é a órbita lunar.

A órbita da Lua é levemente inclinada em relação à órbita terrestre, e esse valor é de 5 graus. Essa diferença impede que haja eclipses todos os meses, pois somente em alguns momentos do ano que há a intersecção ou alinhamento das duas orbitas, ocorrendo assim os eclipses lunares e solares. Quando temos essa intersecção das órbitas na Lua Cheia vivenciamos o eclipse lunar.

Nos dias de hoje os eclipses não causam mais terror e pânico e sim admiração pelo mundo todo. No último mês de julho foi visível aqui no Brasil o eclipse lunar total em que aconteceu a Lua de sangue, e quem conseguiu observar se deparou com um espetáculo incrível.

Mas a pergunta que muitos se fazem é como realmente acontece o eclipse lunar e por que ela fica vermelha ou “sangrenta”?

Bom podem ficar tranquilos pois de sangue a Lua só tem o nome. Na verdade, é uma forma de chamar à atenção para esse evento astronômico.

Como já foi dito, o eclipse lunar acontece na fase cheia e com a intersecção da orbita da Lua com a da Terra. Quando isso acontece o satélite se encontra na região da sombra da Terra, isso mesmo, nosso planeta tem uma sombra. Essa sombra é dividida em penumbra e umbra. A penumbra é uma sombra mais fraca pois nessa região não há o bloqueio total da luz solar. Quando a Lua se encontra neste tipo de sombra temos o eclipse penumbral, na realidade nesse momento não vemos nada de diferente no nosso satélite. Já a umbra é uma região de sombra bem escura, pois existe o bloqueio total da luz do Sol. Quando a lua está nesta região ela começa a se tornar vermelha.

Mas que mistério é esse que aterrorizava os povos do passado? Para entendermos esse fenômeno precisamos conhecer um pouco da natureza da luz.

O Sol emite luz de diferentes cores chamadas de comprimento de onda. Já observaram o arco íris? Quando os raios solares atingem as gotas de água, ela é dividida em várias cores e as gotas funcionam como prismas dividindo a luz.

Mas voltando a Lua sangrenta….

Quando ocorre o eclipse lunar, a luz solar atinge a atmosfera terrestre, porém o comprimento de onda do vermelho é o que mais atinge o satélite, colorindo-a assim.

Eclipses lunares acontecem todos os anos na Terra, porém nem sempre é possível todos observarem. O último que aconteceu no mês de julho foi o mais longo do século, isso tem a ver com as posições dos astros durante o eclipse.

Hoje esses eventos não causam espantos a ninguém pois sabemos as suas causas e características. O conhecimento sobre a natureza no traz clareza e   permite que contemplemos a grandiosidade do universo.

Então no próximo evento astronômico não tenha medo aproveite o máximo que puder!

 

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Marcos Pedroso (E-mail) é bacharel em Ciências Biológicas e mestre em Ensino de Astronomia. Atualmente é educador no Planetário e Cine Dome de Santo André – Johannes Kepler na SABINA – Escola Parque do Conhecimento, onde realiza trabalho de formação, divulgação e ensino de astronomia e ciências correlatas.