TRILOGIA DO CACHORRO LOUCO – DANIEL PERRONI RATTO

Cães Insanos

Muitas nuvens estridentes
cogumelos formavam-se
em sincronias estelares

Gente para todo lado
cachorros loucos
procuravam suas fêmeas

As funções delirantes
galgavam visões etéreas
em ações beligerantes

Computadores alados
e dígitos moucos
caçavam as Gêmeas

Beats acelerados
agoniavam os fantasmas
dos ataques de pac-man

Um passo além das almas
estava aquele povo insano
de Hitler e Spectroman

Absorto na ideia do tirano
país travestido de Batman
lança a bomba do trauma

A fome salta do penhasco
sem pensar no paraquedas
O buraco dos desesperados

Porta-moedas do moleque
não cabe mais vazios
muito menos esperança

E agora, na boca chiclete
não aceita mais elogios
está no corredor da matança

Perturbações psíquicas caninas de Agosto

A ressurreição dos saltos sombrios
em fatídicos loops de raios laser
aparecem nos céus, riscos vermelhos
lágrimas dos golfinhos-de-fraser

A radioatividade alienígena queima
os espécimes que não concordaram
Por todo lado o medo toma, lateja
e os assassinos das ideias caçam

Até aquele dia de agosto chegar
onde todos ficam loucos a festejar
Não se dão conta, o mundo acabou
Alucinação de um sorriso sobrou.

Você brinca com seus periféricos
indiferente às sinapses da sua mente
programado por sofisticados algoritmos
ao acordar de manhã no recipiente

A casamata onde você vive não te suporta
Ela quer lhe expelir quer que você nasça
Quer te fazer acreditar que o amor existe
mas os traços de consciência são lisérgicos

Os remédios nublam seus passos pela avenida Paulista
O tempo seco não os deixam respirar adequadamente
As velhas senhoras ruidosamente riem das suas portas
Os mendigos desabrocham como flores conscientes

Os pássaros observam-te, a cada passo nervoso
desfiguram em telas como tintas jogadas
mostram as esquinas velhas do teu destino
e voam para as luzes de casas abrigadas

O imperador Cesar Augusto tem seu mês
As noivas tem sonhos à espera das caravelas
Os cachorros loucos e suas cadelas no cio
E nós neste software de paisagens belas

Mad Dogs

Enquanto isso
mês do desgosto
faz-se ano inteiro
em baixo transe
membranas finas
o resto de almoço
na lata de lixo
em sagaz lance
mistas sobrevidas
comem o caroço
da linguagem
Essa gente maluca
sem identidade
cresceu com nudes
em seus celulares
à procura de
dates e lacres
idioma mutante
nas ruas da cidade
ficamos para trás
fragmentos de
personalidade em
frações de frases
shipando ursos
de pelúcia
à espera do crush
flopando outro
Relacionamento
com a camisa hype
ansiosos pelo
próximo meme
a sexta sextou
fim de semana
chegou
Está lá a hashtag
com o gif que
você ama
zerou a internet
saudade demasiada
do mundo analógico
E assim,
como um
mad dog

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Daniel Perroni Ratto (Site) é poeta, jornalista, músico, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA/USP. É autor dos livros, Urbanas Poesias (Ed. Fiúza, 2000), Marte mora em São Paulo (A Girafa, 2012), Marmotas, amores e dois drinks flamejantes (Ed. Patuá, 2014) e VoZmecê (Ed. Patuá, 2016).