estou morto como aquele cadáver
que ri quando perde a carona estou
morto como aquele imbecil cadáver
feliz pelo sol que bate na pele
e não queima estou morto como aquele
cadáver que não se importa com o que
vão dizer que vai à praia entra de
roupa e tudo estou morto como os grãos
de areia que grudam nos cantos dos
dedos dos pés e eles colocam
meias pra acabar com o que sobrou do
dia estou mais acabado que aquele
cadáver que distribui beijos a
quem não merece que inventa maneiras
diferentes de abraços em quem não
existe estou tão morto quanto aquele
cadáver que está mais morto que eu
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Fábio Pessanha (Propriedade do Irreversível / Facebook) é poeta, doutorando em Teoria Literária e mestre em Poética, tudo pela UFRJ. Publicou ensaios em periódicos sobre sua pesquisa atual, a respeito do sentido poético das palavras, partindo das obras de Manoel de Barros e Paulo Leminski. É membro do NIEP – Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Poética, também na UFRJ. Coordenou e ministrou cursos no projeto de extensão “Poéticas – Projeto de Formação de Leitores Literários”, pela UNIRIO, realizado durante o ano de 2016 na Biblioteca Parque de Niterói. É autor do livro A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos e coorganizador do livro Poética e Diálogo: Caminhos de Pensamento, além de participar como ensaísta em outros livros e periódicos.