próximo ao atropelamento
lê-se a alma lentamente através dos braços
a uma pedra morena
e com suas passagens sobre alguns sítios
interceptar a vastidão
interpreta como se tocasse um viajante o remorso
crê-se fielmente que é bonito e vulnerável o ócio
de procurar cidades antigas
a estrutura humana
depois… me sujei como um curativo
o sangue era um hábito curioso
tornava-se açúcar queimado
na paisagem
meus olhos desapareceram
locomotivas minando o areal
um ente seduzido por um tipo
de alumínio que amolecia dores
e não funciona
é possível roçar num círculo
você pode fazer vigília como faz o sistema solar
e ele ainda estará lá sentando numa posição sincera
atravessando-se toda vez como faz um triatleta
mas é triste não poder guardar as coisas na esplanada
ou onde dá pé
porque os homens não têm saudade do solo
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Leonardo Bachiega é poeta, arquiteto e urbanista, pós-graduado em Barcelona/Espanha. Nasceu em 1980 na cidade de São Paulo/Brasil, onde mora hoje. É autor de Poema Número Um (2016), seu livro de estreia, e A cidade desabotoada (2018). Tem poemas publicados em diversas revistas literárias como InComunidade, Mallarmargens, Alagunas, Garupa, Amaité e outras. Estes poemas estão em seu próximo livro, Ácaros que depositam flores.