Medusa
Brilha no escuro
e ao sol,
impulsionada à superfície
de um infinito próprio.
O corpo inteiro em coxas fortes,
sua vida em empuxo perfeito
a estatela em nome
de um único contato.
Molenga,
a cabeça de geleia morre na praia
ao primeiro abandono
de uma onda.
Água-morta,
vira e faz fritadas
na canela de uma criança,
vingadora.
Caravela
Tentacular quilométrica
de delicadeza crônica,
nervosa.
Com seus filamentos de dor
desfia o cortinado
de maldições borbulhantes.
Oferece toques irresistidos
e embrenha os desavisos,
e os nina maldosa.
Inflada de transparência,
na errância de uma inércia,
sua flutuação soprada.
Bamba de preguiça
em suas navegações deslizantes,
desastrosas.
Seu orgulho desimpedido
rumo à infestação
majestosa, portuguesa.
Bolena
Finaliza meio mundo
à sua passagem enorme –
enorme despreocupação.
Abocanha indiferente
água e vida,
mero bocejo.
Engole tudo
que sequer lhe faz cócegas,
túnel móvel em alto mar.
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Isabela Sancho nasceu em Campinas, no interior de São Paulo, em maio de 1989. Experimentou ballet clássico e flamenco, além de estudar artes visuais, formando-se em arquitetura e urbanismo pela Unicamp. Morou na Itália e atualmente vive em São Paulo. Escreve, desenha, modela bonecas e projeta jardins.
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