Para a Liv, minha segunda sorte
caminhamos de mãos dadas
a criança que me move
e o velho que de mim se vai abeirando
e nesta lenta e sinuosa estrada
vamos sonhado a terra daqui
até muito depois dos mais longínquos horizontes
às vezes regamos um girassol ali
colhemos um beijo de mulata aqui desfolhamos
um malmequer num lugar qualquer e todas
as flores são da claridade exacta
para todas as mais pequenas sombras
a vida é todos os dias
as horas vão mudando de luz
e quando a noite aflora e o orvalho adensa
falamos da liberdade
e sabemos que a beleza é também um fardo carregado
de solidão
mas há o mar
e nessa imensidão inventámos esta ilha
podemos enfim pousar os castelos onde se erguem
os nossos sonhos
na areia da margem onde esse mar vem repousar
e o sol desperta os dias para cantarolar a vida
e no silêncio dos jardins que vamos desenhando
plantamos velas quiçá a lua as acenda uma a uma
e a garrafa de uma mensagem náufraga
nos ofereça o dorso e a brisa a paciência das nuvens
os nossos olhos têm pássaros
quando os fechamos eles voam
e parece que não voltam mais
voam até onde só o futuro pode
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Guita Jr. nasceu em Inhambane, Moçambique, em 1964. É professor de língua portuguesa e membro fundador da Associação e do Caderno Literário Xiphefo. Tem obra dispersa em jornais e revistas nacionais e estrangeiros. Publicou os livros de poesia O Agora e o Depois das Coisas, Da Vontade e de Partir, Rescaldo, Os Aromas Essenciais. Vive temporariamente em Hanôver, Alemanha.
VÍCIO VELHO 