Joguei fora
aquele poema
feito pra ti
na madrugada
joguei fora
as promessas
ditas outrora
Você me disse
que não era hora
de acreditar
no nosso amor
Você me disse
que aquele retrato
não significava
mais nada
Tô indo embora
a contragosto
porque sou eu
quem ama
Deixei o jornal
na cadeira da sala
e o anel
no pote de açúcar
Lavei o quintal
a louça da cozinha
e a mente cardinal
Tomei o gardenal
guardei a tábua rasa
a memória passional
e saí de casa
Não me leve a mal
não quero ouvir
palavra eivada
nem ver você
dizer adeus
Deixei a chave
no parapeito do coração
pendurada no agave
de nossa obliteração.
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Daniel Perroni Ratto é poeta, jornalista, músico, editor, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA/USP. É autor dos livros, Urbanas Poesias (Ed. Fiúza, 2000), Marte mora em São Paulo (A Girafa, 2012), Marmotas, amores e dois drinks flamejantes (Ed. Patuá, 2014), VoZmecê (Ed. Patuá, 2016), finalista do Prêmio Guarulhos de Literatura 2017 e Alucinação (Algaroba, 2018).