que a cama aqui é bem quentinha? e
que no quarto tem um puta frigobar?
que se a cerveja acabar não se preocupe
querido
que eu mando um moleque daqueles comprar mais?
que ainda te garanto uns trocados pro cigarro de depois?
não se preocupe tanto coração
não se preocupe
não vê que agora já é
tarde?
que se passa essa vez talvez nunca?
que tal só mais uma meu bem?
que sou tipo uma celebridade?
que sou famosa pelas redes sociais?
não por cá
que deus me livre mas no youtube
não reparou que no dia de hoje conversamos como nunca?
não concorda que trocamos confidências?
que as nossas preferências
não são tão distantes assim?
(que não vão xoxar de tu nem de mim?)
me diz meu chuchu tu
não acha? e tem que lá fora vai estar
que é um frio de açoite mas
não se preocupe
aqui vai ficar tudo bem
aqui vai fazer um calor
que eu tô loka muito loka mas
posso lavar e passar
posso falar de carícias
posso lhe cantar canções
não vê que já se foram quase vinte garrafas? já
estamos prontinhos pra quebrar toda essa louça
estamos distantes do furdunço
pode crer
pode chamar de errezinha se te apetecer
pode gritar e sangrar
pode cravar suas garras de urso até
amanhã cada um pro seu lado
preciso mesmo visitar o mundo
garantir meu aqüé. mas
hoje peço é que tu fique é por aqui
pode ser?
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Carlos Eduardo Pereira nasceu no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1973. “Enquanto os dentes” (2017, ed. Todavia), seu romance de estreia, foi semifinalista do Prêmio Oceanos e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura.