[…] – ÓSCAR FANHEIRO

Sentado à secretária, atiro a fala ao alpendre do silêncio; procuro entre os dedos, das mãos, o caminho que ladeia a angústia do tédio, mas não encontro, e sigo adormecido no asfalto da dor. Os prédios pelas janelas avivam a distância das estações. Há um presente invisível entre as pessoas, ou a palavra é que nos chega cansada da viagem!? (Então) pelo gargalo desço mais um bocejo que sabe a acre, o mesmo sabor azedo deste amor que me ensinou os íntimos segredos desta mulher a quem escrevo com o sangue o seu nome, e com a carne a escuridão da sua ausência, pois, atormenta-me o abismo do seu silêncio. Mas peço à Deus que me dê da palavra o revólver assassino deste sentimento, ou a corda suicida de quem há muito a insatisfação lhe cobra um escrito. Pois, do mesmo modo que um satanyoko metido a poeta escreveu na água, que a verdade existe antes da expressão, entretenho o entardecer do leme nos meandros de Abril, para que a árvore da memória observe o precipício onde durmo a profética sombra do cansaço, o suspiro onde anelar o Sol das manhas e tardes a lareira deste sono em que tudo se ensopa…. roubar dos meus colegas a atenção que ao professor lhes é devida.

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Óscar Fanheiro nasceu aos 07 de Agosto de 1995, em Maputo, Moçambique. É estudante de Ciências da Comunicação e de Ciências Sociais e Filosóficas. Em 2018 foi finalista da 3ª edição do Premio Literário UCCLA, com o livro A Gramática Da Solidão; em 2016 foi também finalista da 1ª edição do Premio Literário Fim do Caminho, dedicado a modalidade de contos policiais ou criminais. Tem textos publicados em antologias e revistas electrónicas, com especial atenção a 1ª Antologia de Contos Criminais Moçambicanos: “O Hamburguer Que Matou Jorge”.