Meu amor me trocou por um aplicativo de sexo casual, o amor me trocou por unidos venceremos e um pé de Iemanjá pisando descalça no chão da sala onde deitei e esfreguei a buceta em posições absurdas de ballet. Trocou meu Grimório por um livro de São Cipriano. O amor me trocou por um quarteirão com queijo batatas fritas coca-cola, trocou seis por meia-dúzia trocou uma nota de quinhentos, trocou meu vôo de lugar, trocou 3 gramas na biqueira me trocou por uma vídeo-chamada, me trocou por cabeçada na parede, cortou a testa de fora a fora e me trocou como trocasse de cueca zorba modelo antigo de algodão me trocou por uma banda de metal sueca me trocou por uma viagem a Helsinque e a Finlândia inteira, o amor me trocou por uma paisagista calma e equilibrada como devem ser as paisagens. O amor me trocou por um jardim de amor-perfeito e dentes brancos.
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Ana Farrah é gaúcha de 1981. Teve sua escrita notada nas redes sociais quando seus textos começaram a ser publicados em blogs e revistas eletrônicas de literatura contemporânea no Brasil e em Portugal. Participou da coletânea de contos Sete Pecados, pela editora Scenarium Plural e da antologia ‘Contemporâneas’ na revista Vidas Secretas, editada por João Gomes. Publicou poemas também no Livro da Tribo, pela Editora da Tribo. É colaboradora/curadora na Mallarmargens, revista virtual de poesia e arte contemporânea. Escreve sem eira em poesia sarcástica, mas transita entre outros estilos. No momento, Ana trabalha com Estética e escreve nos intervalos entre uma massagem e outra. Publicou o livro “Orquídea Trepadeira e outras flores ordinárias”, em 2017, pela Editora Benfazeja; em 2018 publicou “Os Mortos do Apartamento 21”, pela Editora Patuá. Texto do livro ‘Demônio de Pelúcia’, a ser lançado no ano que vem.