A FLORESTA DOS JAGUARES INVISÍVEIS – MAURO PAZ

|ESCRITORXS DE QUINTA
Por Mauro Paz 

Há uma força solta no mundo para que a gente não seja o que é. Não sinta o que sente. Não pense o que pensa. Cortázar já anunciava: os jaguares estão soltos. Invisíveis, numerosos, os jaguares estão prontos para dilacerar as possibilidades de ser qualquer coisa que não seja jaguar. E essa é a pior das mortes.

Não há nada mais triste do que uma multidão de mortos-vivos sedados pela Bayer e alimentados pela Monsanto. Um morto-vivo não sabe de nada. Nem percebe que desde o Big Bang, o universo está vivo. E se expande criando diferentes combinações de substâncias, tempos, espaços e vidas. De um morto-vivo é roubada a visão desse universo que se expande gentil, inunda amor por tudo, vibra com tudo e cria infinitas possibilidades.

Não somos apartados do universo. A mulher e o homem foram modelados de argila criativa, por isso a agricultura, a ciência, a arte. Por isso, a beleza nos acordes tortos de João Gilberto.

Quando pessoas são impossibilitadas de ser e criar, o câncer da alma se prolifera pelas ruas. A ciência tem descoberto muitos remédios. Nossos corpos vivem mais em cidades que convertem almas em cookies devorados por sites de e-commerce. Talvez por isso o futuro assuste tanto aqueles que se mantêm sãos: o caminho é longo e incerto.

No entanto, por mais turvo que o futuro esteja nesse começo do século XXI, é fundamental lembrar que se chegamos até aqui, foi por aprendermos que o segredo para atravessar florestas repletas de jaguares é andarmos em grupos. E atentos.

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Mauro Paz
 é escritor, publicitário e cineasta. Além da participação de diversas antologias, Mauro tem 3 livros publicados: Por Razões Desconhecidas (IELRS), finalista do Prêmio SESC de 2012; São Paulo – CidadExpressa (Editora Patuá); e do romance Entre Lembrar e Esquecer (Editora Patuá) finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2018.