O tom rosado no céu
no fim da tarde
não aparece sempre.
É preciso notar bem
entre as cinco horas
e as seis
pm.
Circunstancialmente
dependendo do tempo
se a temperatura é alta
se é primavera
se o céu está limpo
se é sábado.
Eu confesso que
circunstancialmente
assim como o tom rosado,
não me sinto bem
como se de mim fosse drenada
toda capacidade
de me conectar
com o outro.
Embora seja passageiro
eu preciso tomar cuidado
esses sentimentos
pesados feito o diabo
correndo feito aço
na corrente sanguínea
fazendo um mal danado
neste cérebro cansado.
Me olho no espelho
e o reflexo aponta beleza
o sorriso da fotografia
e o charme de um flerte
na mesa de um bar
rosada da embriaguez
feito o céu
de uma tarde de
novembro.
Essa tristeza
rosada feito um céu claro
e limpo
pesada como o ar poluído
espalhando-se feito um veneno
que só faz efeito
nas madrugadas solitárias
nos cigarros tristes
cujas brasas marcam a pele
e a fumaça sufoca os olhos.
Essa tristeza
tão particular
que eu não divido
com mais ninguém
e a solidão me espera na cama
rosada é a sua cor
degradê até o pink
em sua intensidade
me olha, de braços abertos.
As lágrimas não são
silenciosas
são altas e abafam
as conversas e as
possibilidades.
numa tarde de sábado
e o seu céu rosado
circunstancialmente
triste.
circunstancialmente
pesado.
Quero um carinho
no rosto.
e um olhar que queime
a tristeza como células mortas
quero me sentir confortável
e me conectar feito gente
conversar despreocupada
sem ser fugitiva
dos demônios
de mim mesma.
O céu rosado
não dura muito,
é verdade.
nem a tristeza
nem a solidão.
Mas eu ainda procuro
um conforto seguro
na dor dessa
passageira eternidade.
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Michele Alves (@garotanicotina) tem 25 anos e mora na periferia de São Paulo. Estuda Letras na Universidade Federal de São Paulo e já lançou dois zines independentes: A Fuga e Silêncios. A autora aborda temas como transtornos mentais, política, feminismo, romance… Atualmente está escrevendo seu primeiro livro de contos.