o amor é sobretudo como a vida que, mesmo sem sabermos como surge, nos deixa conhecer sua base.
uma planta carnívora reage a um inseto e explica a ordem própria do que é finito:
a dor de entender que, para se manter a vida, da morte é preciso:
a cadeia alimentar, como o amor, é sobretudo um ciclo.
há semanas só dormem depois de o último bar expulsar os bêbados:
há meses não lembro de você comigo.
sempre me esqueço cedo
de um rosto que não vejo insípido.
dizem que sou como um peixe, mas prefiro caranguejos
justamente por andarem de lado
como se entrelaçassem as pernas.
dizem que pareço brisa, mas prefiro os ventos:
pois três séculos é pouco tempo para que se abra uma caverna.
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Raí Prado Morgado (Caraguatatuba, 1999) estudou Gestão Ambiental na ESALQ/USP, em Piracicaba, e edita a Revista Contempo. É membro do conselho editorial da revista Mallarmargens, sendo também responsável pela gestão das redes sociais. Além disso, toca o Sob o Silêncio, projeto literário com mais de 50 mil seguidores, pelo qual faz exposições em eventos culturais pelo estado de São Paulo. Tem poemas publicados em revistas e periódicos literários como Subversa, Vício Velho, Mallarmargens, Aboio, Pixé, Ruído Manifesto, Arribação e Suplemento Acre, no Brasil, e pelo coletivo MásPoesia, na Argentina.