Entrei no quarto de paredes quânticas
sem gravidade, sem pés no chão.
Um lugar onde nada era
tudo e tudo era também
Verifiquei minha pulsação
apertei o pulso
e senti o metrônomo
Foi cadenciando até
motorizar as equações surreais
E compreendi que o
Quarto era todo lírico,
de quem quiser experimentar.
Lá tinha uma janela
onde eu viajava por
vegetações típicas brasileiras
Vi a Caatinga lá do sertão cearense
onde deitava em minha rede
balançava os olhos e
com uma boa caninha fazia
brinde aos Pássaros
e a poesia vinha como
um soldadinho-do-araripe
cheia de cores e vida
Nessa ambiência
tantas possibilidades
e ela não soube
explicar a ausência
Fiquei horas contemplando
aquele quadro de Bosch.
Luzes apagadas e a moldura
era como um arco-íris em movimento
Eu disse a ela que
Seus Papos Não Colam
Uma guitarra psicodélica gritou
e entendi realmente que
Não Bateu Nosso Santo
Fui à boemia
beber, escutar Adoniran
e paquerar a amiga dela
De fato, não saí do Quarto
tanto quanto a metafísica permitiu
Apaixonadamente caído por ela
Deitei. Deixei-me levar pela
brasilidade da música ambiente
Cérebro Eletrônico
cercado de seres míticos,
trabalhando os neurônios
com o torpor de Baco, que dizia:
“Libertem os Faunos”
Acordei de supetão
Abri a porta e deparei-me
com meu subconsciente
Nessa Tristeza Retrô
em que me afogo, goles largos,
ao perceber tudo que perdi
Entrei em estado de sublimação.
Só que minha mente,
assim como o Quarto do Cérebro,
é a expansão das dimensões,
das possibilidades
É tudo o que eu quiser que seja!
Pois liguei. Ela veio
Olhos profundos
Porta aberta
Surgiu um sorriso em seu rosto
Desfiz meu apego
até amanhecer
e a levei para ver nossos
Canibais Ancestrais.
Ainda que me tente
a não voltar fracassado
os lampejos do quarto apertado
escuro, com a solidão à espreita
e bebidas alucinógenas
mostram a virtualidade
das relações humanas
Assim, decido pular no
precipício alienígena da alma.
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Daniel Perroni Ratto é poeta, jornalista, músico e editor da Editora Algaroba. Pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA/USP, autor dos livros Urbanas Poesias (Ed. Fiúza, 2000), Marte mora em São Paulo (A Girafa, 2012), Marmotas, amores e dois drinks flamejantes (Ed. Patuá, 2014), VoZmecê (Ed. Patuá, 2016). Foi o vencedor do PRÊMIO GUARULHOS DE LITERATURA em 2019, na categoria Escritor do Ano, com o livro, Alucinação (Algaroba, 2018). Premiado no projeto E-VIVÊNCIAS – MEMÓRIAS, EXPERIÊNCIAS E TEORIAS 2020 da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Em 2015, foi selecionado para integrar a Exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa, e, em 2017, na Caixa Cultural de Salvador e na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Participou, como convidado, em 2017, da XI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, onde esteve na mesa “Mercado Editorial”. Participou do livro Golpe: antologia-manifesto (Nosostros Editorial, 2017), da Antologia da Resistência – A Poesia Queima (Patuá, 2018), Coletânea 100 Sonetos de 100 Poetas (Inst. Horácio Dídimo, 2019) e da Antologia 70 x Caio (Patuá, 2019).