Romeu tem que morrer, para dar vazão a sua Julieta nunca beijada, desejada, mas nunca conquistada pelas luzes da cidade, nos cantos menos frequentados pelos amores não ditos. E Romeu tem que correr, para encontrar a Julieta que não é a dos sonhos que lhe deram, outra muito pouco a ver com essa, vendeu por trinta moedas de prata falsa para poder entrar no baile dos tolos que julgam amar. Romeu tem que dançar, não pode fazer muito, mas faria qualquer coisa pela Julieta que almeja, má companhia, só para beijar mesmo e fazer tudo acertar, dizer eu te amo até o dia em que tudo acabar. Romeu tem que vingar, não pode mais sair assim a esmo, sem saber onde parar, nas ruas há muitas Julietas, mas não a que lhe interessa, vê pelas janelas e portas, mas não lhe respondem de volta como deveriam. Segue cada vez mais Romeu, menos Julieta, cada volta completa do relógio que não lhe traz o beijo amado. Romeu saiu para dançar, ia encontrar a Julieta, qual fosse, não queria mais ser só Romeu. Foi ali, naquele lugar cheio de Julietas, que Romeu achou seu lugar, quando outro Romeu chegou e disse ser Romeu, ele lhe respondeu que também era, que buscava Julieta; o outro idem, cansava já de buscar, dera por perdido feito o Graal ou beijos roubados no túnel do amor, eternamente despachados a Brigadoon. Ele também vinha com a boca seca havia anos, pois que não havia beijo de Julieta alguma a sua espera, perguntou como fazia para achar, o outro lhe enfiou um Romeu boca adentro, eram suas Julietas. Desfeito o beijo doce e sem veneno dramático, esqueceram Julietas, não havia necessidade delas, Romeus eram deles mesmos e um do outro. Romeu olhou para Romeu e puderam ver Julietas dando as costas e indo embora sem palavra dizer, um fantasma expulso via línguas. Romeu abraçou Romeu, Romeus foram dali embora, deixaram para trás um bando de Julietas inconsoláveis…
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Nota editorial: O conto Romeu tem que morrer é parte integrante do livro Nunca Mais Voltei, do Alexandre Willer, lançado em julho deste ano pela editora Folhas de Relva. A obra pode ser adquirida no site da Folhas de Relva, na Amazon, na Martins Fontes Paulista e com o autor @ale_willer
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Alexandre Willer é de São Paulo, capital. Tem 52 anos e mora no centro velho da cidade, é autor do livro de contos Maré Vazante e outras Estórias (Clube de Autores, 2013) e Nunca mais voltei (Folhas de Relva Edições, 2020) e participou das antologias Homossilábicas Vol.2 (Editora Escândalo, 1998), Cem anos de amor, loucura e morte (Editora Moinhos, 2017), GOLPE: Antologia Manifesto (Nosotros Editorial, 2017) e da antologia A Resistência dos Vaga-lumes (Editora Nós, 2018).
(Capa, projeto gráfico e ilustrações: Fabiano Souza)
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