IMPLICÂNCIA – ALÊ MOTTA

Coluna | Precisão


Um garoto da minha turma sempre atirava pedrinhas em mim na hora do recreio, no pátio lotado de crianças. Estávamos no terceiro ano do Fundamental e nunca tínhamos conversado. Eu não entendia aquela implicância. Eu fugia dele, porque as pedrinhas e a vergonha doíam.

Um dia ele jogou um papel junto com as pedrinhas. Um coração tremido, desenhado com caneta hidrocor vermelha e um EU TE AMO escrito com letras feias e tortas.

Demorei alguns anos  para entender os garotos.

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Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. É autora de Interrompidos (Editora Reformatório, 2017) e Velhos (Editora Reformatório, 2020).