FÜR ELISE (TRÊS POEMAS DE HUMBERTO PIO)


H 204 JUBILEU


RELÓGIO CUCO
H
é muito mais
DO QUE UM RELÓGIO DE CLASSE
é também muito mais
DO QUE UM ADORNO
É O
Símbolo Do Lar Feliz
***

na cartilha caminho suave
o vaivém da uva de vovó

II XII

há quarenta anos o tempo estancou
ponteiros, pêndulo, pinhas e pio

II XII

instante presente



A MAGIA DA VERDADE INTEIRA

I
Guaxupé, noite de São João, fim da década de setenta do séc. XX

sobre a mesa
da sala de jantar
repousa
o austero ataúde
sobre a mesa
da copa
jaz
a urna enfarelada

caixa oblonga apensa à sala (cheias)
                                                        – caixa circular contígua à cozinha (vazias)
flocos de milho úmidos

II
São Paulo, quarta-feira de cinzas, fim do primeiro ano pandêmico do séc. XXI

sobre a bancada
do quintal
desperta
a farinha quilombola
sobre a mesa
de refeições
reencarna
a alma liberta

o velho corpo torneado disposto em escalão perdeu coroa
                                                                                                – ela reina absoluta
mandioca cura sua ressaca



A CAIXA NO ALPENDRE

os marimbondos
as únicas visitas


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Humberto Pio (Mantena – MG) é poeta e arquiteto. Autor de Coágulo (Editora Reformatório, 2019) – vencedor do Prêmio Maraã de Poesia 2018. Finalista na categoria poesia do Prêmio Off Flip de Literatura 2020, participará de coletânea (Selo Off Flip, no prelo) e integra também Longe de Monte Carlo (Edição do autor, 2020) – com alunas e alunos do CLIPE Poesia da Casa das Rosas/CAE – e Transitivos (Off Produções Culturais, 2011) – apoiada pelo Proac-SP 2010. Tem poemas publicados em diversas revistas literárias. Prepara seu segundo livro solo, Talagarça.
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Imagem keith Dotson