Coluna | Precisão
Todo dia de tarde eu e minha amiguinha vamos olhar as gaivotas voando bem alto, ao lado da linha do trem. É lindo.
Hoje não vamos. Começou um tiroteio. Eu, minha mãe e meus irmãos estamos no chão encolhidos e nervosos. Fechei os olhos e tentei imaginar as gaivotas para esquecer o barulho dos tiros, mas não consegui.
Saímos para a rua quando acabou o barulho dos tiros. Mas tinha barulho de choro. Na frente da casa da minha amiguinha.
Nunca mais olhei para o céu.
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Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. É autora de Interrompidos (Editora Reformatório, 2017) e Velhos (Editora Reformatório, 2020).