RECÉM-NASCIDO – ALÊ MOTTA

Coluna | Precisão


O marido pegou o filho recém-nascido no colo pela primeira vez e trinta segundos depois, a criança deslizou para o chão. A mãe gritou desesperada e mesmo com dor porque fez cesárea, saiu depressa da cama para acudir o seu bebê.

O marido ficou paralisado, com um sorriso torto na cara, exalando o cheiro forte da bebida.

A criança berrou de dor e a mãe alisou cada parte do corpinho. Deu beijos em seus braços, suspirou aliviada porque não encontrou machucados do tombo e expulsou o marido aos berros do quarto.

Naquela madrugada todos dormiram profundamente. A mãe, de cansaço. O marido, da bebedeira e o bebê, do tombo.

A desgraça maior foi de manhã. Hemorragia interna.

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Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. É autora de Interrompidos (Editora Reformatório, 2017) e Velhos (Editora Reformatório, 2020).