NUM FINAL DE TARDE – ALÊ MOTTA

Coluna | Precisão


 

O porteiro está sentado na portaria do prédio.

A funcionária da banca de jornal lê uma revista.

O policial aposentado saca da pochete uma arma para atirar no menino que rouba um sonho na padaria. Os tiros acertam o balcão de pães e as costas da funcionária da banca, que corre em direção ao prédio.

O menino escapa.

O policial desaparece.

Os vizinhos gritam ao ver o corpo ensanguentado da funcionária no chão.

O porteiro chora. Eles fariam dez anos de casados na próxima quarta-feira.

_______________________
Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. É autora de Interrompidos (Editora Reformatório, 2017) e Velhos (Editora Reformatório, 2020).