“Muita internet
pouco eu.
E o tempo
do tamanho dele”.
Maria Giulia Pinheiro
Faz poucos dias que voltei ao Brasil (utilizo a palavra voltei porque o Brasil nunca deixou de ser a minha casa), e tive a oportunidade preciosa de (re)conhecer as amizades que começaram pela internet.
Poderíamos criar novos termos para expressar aquele assombro que nos provoca sentir a presença pulsante das pessoas ao vivo. Somos singulares. Mais ou menos miúdos do que na tela, mais ou menos distraídos do que na tela, mais ou menos amigáveis do que na tela.
Atravesso um período de adaptação estranho, porque apesar de estar de volta, tenho a sensação de que não sei qual é o meu lugar. Também não sei se alguma vez vou descobrir. Nos últimos dez anos, posso dizer que não consegui morar numa mesma cidade por muito tempo.
E o tempo é aquela entidade que inventamos de colocar em dias, horas e relógios para tentar levá-lo no bolso. Mas é impossível, porque “és um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho…”
Quanta paciência lhe peço ao tempo para que me mostre onde vão meus passos.
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Valentina Bascur Molina é pesquisadora, poeta, escritora e tradutora. Mestre em Estudos Feministas pela UFBA. Nasceu e cresceu em Temuco, território de Wallmapu, Chile. Reside no Brasil há nove anos. Autora de “Kümedungun: trajetórias de vida e a escrita de si de mulheres poetas Mapuche”, publicado pela Editora Urutau, selo Margem da Palavra, em 2021. Integra o Núcleo Feminista de Dramaturgia, espaço em que desenvolve projetos de escrita e pesquisa coletiva com outras autoras, sob orientação de Maria Giulia Pinheiro.