Coluna | Precisão
Minha avó reclama durante a ceia de Natal: Que absurdo esse sumiço todo ano. Ela faz um bico, balança a cabeça: Olha lá o presépio incompleto.
Ela sabe que eu sou o culpado. E eu sei que ela acha divertido.
Desde criança, pouco antes do Natal, eu pego um dos integrantes do presépio, e só devolvo em janeiro.
Este ano vai ser diferente. Eu não vou devolver o Jesus. A manjedoura vai continuar vazia. Minha avó morreu hoje de manhã.
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Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. É autora de Interrompidos (Editora Reformatório, 2017) e Velhos (Editora Reformatório, 2020).