MITOLOGIA – BEATRIZ DI GIORGI

|SENHORAS OBSCENAS
Por Beatriz Di Giorgi

 
Desde cedo inquiria os adultos sobre o mistério do porvir.
Quase nada respondiam: porvir é como onda do mar que virá.
Mal sabia eu do enigma da esfinge mais completo e difícil de decifrar.

Eu criança apenas queria saber que tipo de adulta seria.
Já adulta como uma fruta madura não quero mais desambiguar.
Assim como a vida o dia tem a aurora, o vespertino e o escuro.

A esfinge não desambigua sobre o tempo, cuida do espaço.
Nem sobre o animal que se transforma.

A esfinge atravessa impune o crepúsculo, o templo a protege,
no afã de desfazer a única humana certeza.

Hoje à antiga questão responderia: pois foi, pois é, por vir.
O destino: encontrar a velha vaga evasiva do mar revisitado,
Lotada de adultos banhistas de primeiro banho simbólico,
Que se fingem de turistas, perguntando onde estão as crianças que foram.

 

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Beatriz Di Giorgi
, 1965, é poeta e participa do coletivo Senhoras Obscenas. Também é advogada, conciliadora e mediadora, foi professora na Faculdade de Direito da PUC/SP, atualmente leciona na APAMECO – Academia Paulista de Mediação e Conciliação. É autora de poemas em várias coletâneas, do livro Flávio Di Giorgi Seu Nome Era Professor (EDUC-PUCSP, 2016); Labirinto (Neotropica, 2014); Sentimentos humanos: origens e sentidos (Fundação Stickel, 2013); coordenadora de edição e autora de um artigo do livro Direito, Cidadania e Justiça: ensaios sobre lógica, interpretação, teoria, sociologia e filosofia jurídicas.