|SENHORAS OBSCENAS
Por Elisa Andrade Buzzo
um fantasma por aqui passou
de cabelos-nuvens turbulentos escrevo
na pauta deste caderno sem tê-lo visto de frente tinha
o corpo delgado como uma rajada de vento veio
ambulante em camisa branca na tormenta o
rosto macilento de um sonolento homem de letras as íris incólumes
em sua escuridão sepulcral violáceas como estas linhas
a felpa de meu cachecol ou o céu cinzento
ele nada disse peão magnetizado virou-se
em meu encalço como uma entidade que perscruta
um bicho revolto que observa a contorção da natureza
estranha medusa que não olhei e ainda assim fincou-me em
parada estátua tão bem essa chuva virou meu chapéu
mostrou a dupla face de minha capa e descobriu meu rosto
estático na luz acinzentada enquanto ele insinuante e
comedido dissolveu-se inteiro nos contornos do tempo
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Elisa Andrade Buzzo é formada em Jornalismo pela USP. Atualmente, faz mestrado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Estreou com os poemas de Se lá no sol (7Letras, 2005), tendo publicado também Vário som (finalista do Prêmio Jabuti 2013 na categoria poesia) e Notas errantes (Patuá, 2017), dentre outros. Publicou as crônicas de Reforma na Paulista e um coração pisado (Oitava Rima, 2013) e O gosto da cidade em minha boca (Patuá, 2018).