|SENHORAS OBSCENAS
Por Vera Saad
Um dia você me disse que todos temos data de validade. Eu e você, um dia expiraremos, a soltarmos um ar cansado que nos esgota, acuados pelo fim que se exibe vermelho em algum canto de seus olhos. Enquanto eu de mãos fechadas me disfarço com algo de invisível que foge entre os dedos. Sejamos menos realistas, meu amor. Dói menos. Já bastam minhas olheiras, um bônus pelo excesso de realidade refletido no vidro da janela. Se soubesse que ainda você que me salva desta rotina enjoativa despertada com o relógio do criado-mudo. Se soubesse que ainda você que me desperta alguma esperança de que algo melhor está por vir. De que um dia seremos mais felizes. E quando chegar nosso fim, até lá, descobriremos outras formas de vivermos o nosso tempo juntos. Ainda que por apenas um dia. Seremos um tanto melhores, meu amor.
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Vera Saad é autora dos romances Dança sueca (Patuá, 2019) e Telefone sem fio (Patuá, 2014) e do livro de contos Mind the gap (Patuá, 2011). É jornalista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC – SP e doutora em Comunicação e Semiótica também pela PUC – SP. Ministrou no Espaço Revista Cult curso sobre Jornalismo Literário em 2012. Tem participações na Revista Cult, Revista Língua Portuguesa, Revista Metáfora, Portal Cronópios e Revista Zunái. Vencedora do concurso de contos Sesc On-line 1997, avaliado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, foi finalista, com o romance Estamos todos bem, do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana. Seu romance Dança sueca foi selecionado pela Casa das Rosas para o projeto Tutoria, ministrado pela escritora Veronica Stigger.