Coluna | Senhoras Obscenas
Engolir as veias em pedaços de terra
úmida por dias de chuva
Existem coisas para serem ditas às terras
Existem coisas para serem ditas às cidades
– as botas que pisam são as mesmas –
O tempo passa a se alastrar como uma
manifestação histriônica e imprópria,
e eu tentei dominá-lo
enrolando a minha língua
Era difícil se importar com as coisas a este ponto
Mas eu ainda gosto de tecer retalhos de forma incompreensível
gosto de saber a diferença de textura entre
a água que sai das lágrimas e a que sai dos rios
Água, caída sobre meus pés
É sempre
Água
E
de repente, me parece original fingir
que eu fugi de tudo isso
eu rasguei as minhas vestimentas
deixei de ver vultos
ao espelho
Reflexo na água distorcido
Na cidade, é muito fácil. Você se deita nua sob a janela
Mas aqui, o som do vento quer dizer algo
que eu não sei muito bem o que é
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Laura Navarro. São Paulo. Aquariana com Ascendente em Leão e Mercúrio em Peixes, este último sua maior carta na manga. Gosta de se reinventar, principalmente por meio de devaneios, paixões e simbologias ocultas. Estes que lhe renderam a publicação de Claire de Lune (Patuá, 2016) e Natasha (Patuá, 2018), além da plaqueta Sinestesia (Primata, 2019). Inspirada por diversos movimentos artísticos e literários, se liga principalmente ao simbolismo, ao arcadismO, ao ultra-romantismo e ao expressionismo, tendo ligações com poesia erótica, elegíacas e as de cunho puramente experimental, que abordam uma infinidade de diálogos, em especial com teorias da psicologia, do teatro e da comunicação. Laura é, atualmente, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, e divulga regularmente seus textos no blog GOTH MATRYOSHKA