Coluna | Alguma coisa em mim que eu não entendo
(A criação não é uma compreensão, é um novo mistério — Clarice, a bruxa)
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vocês: poetas
ele, no chuveiro
drama:
então, eu não
te balanço?
você teve a
sua chance
moço. vou
fazer um poema
sobre o quanto
corri atrás de você
correu pouco!
será (então)
um poema
curto
(fim (?))
# pequena ode a um novo amor
venta sobre o azul
(dentro e fora
do apartamento)
soundtrack: Summertime
I’ve spread my wings and took to the sky
I can be harmed now
que melhor lugar pr’arremeter
que neste berçário de aviões?
salvem os santos
do rio de janeiro:
são sebastião
são jorge (ben) (da capadócia)
e santos dumont!
#
eis poema que, sendo bobo
para o mundo e seus problemas
para quem do mundo escroto
mais me amou sem razão
(sem razão?)
é cruel alegria:
perseguem-me
o choro
os soluços
a convulsão
# fofoca
jurema disse
que mané contou
que zeca viu
o nascer do sol
na beira do mar
no dia seguinte
não se falava
noutra coisa
#
o lampejo
(na existência)
do momento
da entrega
da escolha
da renúncia
é sempre
imemorável
indefinível
inconsciente
#
ao redor
das águas claras
pinceladas
de lama
— ela também
é parte da beleza
e festa à tátil
degustação
de mil texturas
que teus pés amam
há caminhos de caos
que valem caminhar
mas lembra das águas claras
e quando puder:
mergulha
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Thássio Ferreira, escritor radicado no Rio de Janeiro, é autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016) e Itinerários (Ed. UFPR, 2018 — obra vencedora do i Concurso Literário da editoria universitária). Foi editor e curador da Revista Philos de Literatura Neolatina. Tem poemas e contos publicados em revistas e antologias, como Revista Brasileira (nº 94), da Academia Brasileira de Letras, Escamandro, Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Revista Ponto (SESI-SP), aqui na Vício Velho, InComunidade (Portugal), e outras. Mantém página no Facebook e no Instagram