POEMAS DE CARNAVAL – THÁSSIO FERREIRA

Coluna | Alguma coisa em mim que eu não entendo


porque a frivolidade, além de minimamente necessária, é a cara do carnaval. porque Bandeira. porque sim. porque podem não ser grandes poemas, mas gosto deles, e nesta folia que não há, em tempos duros, pequenos afetos despretensiosos talvez sejam o que de melhor eu possa oferecer.


pirata e bailarina

um pirata fala à bailarina
tão delicada tão feminina
emoldurada ao sol tão pulsante
(neste exato instante
quando olho a ambos)
que parece querer por fogo
neste paredão caloso
de pedras e mata
tão feminina tão delicada
a cidade em festa!

a bailarina sorri
e graças à empatia
que sinto por sua alegria
sou também o pirata ali!
(e também pulso como o sol
em pleno carnaval)


#
num quarto
de hotel (menos que) barato
um quadro
da praça
              Dvortsovaya

que fotografo

é pérola
              de surrealismo

pendurada
na parede
              do Carnaval.


#
dai-me, deus do céu
um corpo que dança
como um xequerê e
prometo ser fiel


#
carnaval. onde?
no Recife
onde mais?
quanto mais
forte a chuva
bate (e bate)
alto mais
muito mais!
o maracatu responde!


#
carnaval
é se interessar
(e ver passar…)
pelo amigo do amigo
da juanita

— história real

_______________________
Thássio Ferreira é escritor, autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018) e agora (depois) _(Autografia, 2019). Tem poemas e contos publicados em revistas e antologias, como Revista Brasileira (nº 94), da Academia Brasileira de Letras, Escamandro, Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Revista Ponto (SESI-SP), aqui na Vício Velho, InComunidade (Portugal), e outras. Seu conto _Tetris foi o vencedor do Prêmio Off Flip 2019, e seu livro inédito Cartografias, finalista do Prêmio Sesc 2017. Foi editor e curador da Revista Philos de Literatura Neolatina. Mantém página no Facebook, no Instagram e uma coluna quinzenal na revista Vício Velho.