Coluna | Palimpsesto
Conheci Lúcia Bettencourt por causa de uma crítica ao seu livro de contos vencedor do Prêmio Sesc, A secretária de Borges. Não havia concordado com o autor da crítica, segundo o qual o ponto negativo do livro eram as muitas referências literárias. Enviei um e-mail à autora, que muito gentilmente me respondeu. Conversamos sobre o fato de o escritor também ser leitor e sobre as referências feitas consciente ou inconscientemente. Dessas e de outras tantas conversas que tive com a escritora, nasceu o blog Palimpsesto. Lá se vão quase 15 anos.
A raspadinha de hoje é em sua homenagem.
Não é difícil perceber o Canto V da Odisseia, quando Ulisses está preso na ilha de Calipso, no conto “A Perfeição” de Eça de Queiroz. O conto “Perfeição”, do livro A secretária de Borges, de Lúcia B., vai mais além. Oculta canto e conto em um só fôlego nas entrelinhas de suas frases.
Quem nunca leu Odisseia, provavelmente já o leu em vários outros autores. Aliás, a afirmação de Calvino em Por que ler os clássicos aqui ganha muitos sentidos. Um clássico nunca é lido, e sim relido, também porque é reescrito em muitas outras obras.
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Vera Saad é autora dos romances Dança sueca (Patuá, 2019) e Telefone sem fio (Patuá, 2014) e do livro de contos Mind the gap (Patuá, 2011), é jornalista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC – SP e doutora em Comunicação e Semiótica também pela PUC – SP. Ministrou no Espaço Revista Cult curso sobre Jornalismo Literário em 2012. Tem participações nas revistas Cult, Língua Portuguesa, Metáfora, Portal Cronópios e revista Zunái. Vencedora do concurso de contos Sesc On-line 1997, avaliado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, foi finalista, com o romance Estamos todos bem, do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana. Seu romance Dança sueca foi selecionado pela Casa das Rosas para o projeto Tutoria, ministrado pela escritora Veronica Stigger. Mantém uma coluna semanal na revista Vício Velho.