ELE PUXA – CAMILLA LORETA

Coluna | Palimpsesto


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O caminho cotidiano
pode vir a ser
um vício de linguagem?

Quantas vezes já o tomei?
caminho água de pote
mais de cem? Muito mais

Miguel então, o cachorro
tem vício de linguagem
faz questão do mesmo lado da rua

Proponho mudanças
ele puxa
volta


Sem minha insistência estaríamos
perpetuamente
na mesma trilha matinal

Às vezes sou eu que me acomodo
ele puxa
um novo lugar, cachorro amigo que late

Se escancara
pobre de mim
tão viciada

Em palavras repetidas
advérbios de intensidade
falta de vírgulas

Nessas horas me odeio um pouco
no pleonasmo mora a minha repulsa

ou seria colisão?

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Camilla Loreta
 é formada em Audiovisual e História da Arte, em São Paulo. Pesquisa a escrita, o corpo e a imagem através das artes gráficas e audiovisuais. Seu trabalho foi publicado pela Editora Caixa e participou de feiras com a Plana (SP e RJ) e Tijuana (SP e RJ) em livros e zines individuais e coletivos. Dirigiu dois curtas-metragens, Clara e O Silêncio das Pedras, sendo esse último selecionado para a Semana Paulista de Curta-metragem. Participou de diversas residências internacionais e nacionais, entre elas: Kaaysa em Boiçucanga (Brasil) com o estudo Como se salvar de afogamentos; Encosta Residência na Ilha do Mel (Brasil), onde desenvolveu projetos de impacto local, dialogando com as comunidades e histórias da região; a residência solo FUGA (Nova Iorque) que rendeu seleção no Festival do Filme Livre, exibido em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília em 2019; The Artist meeting em Marianowo (Polônia), onde iniciou a escrita do livro Sândalo vermelho e os gatunos olhos dela, será romance de estreia como escritora, no momento em fase de aguardo para o mundo se assentar. Entre suas principais referências estão: Virginia Woolf, Matsuo Bashô, Ana Maria Gonçalves, Gita Metha, Sophia de Mello Breyner Andresen, Carola Saavedra e Haruki Murakami.