Coluna | Palimpsesto
A raspadinha da vez é também uma aula de literatura, conhecida, aliás, por muitos escritores, por abordar dois sentimentos catárticos: a comiseração e o horror, sentimentos esses que têm nos acometido muito ultimamente e me feito perguntar com mais frequência do que o normal: “Realidade ou ficção?” Vamos a ela.
“A piedade é o sentimento que faz parar o espírito na presença de algo que seja grave e constante no sofrimento humano e o une com o sofredor humano. O terror é o sentimento que detém o espírito na presença de seja lá o que for que seja grave e constante no sofrimento humano e o liga à sua causa secreta […] A beleza expressa pelo artista não pode despertar uma emoção que é cinética, ou uma sensação que é puramente física. Ela desperta ou deve despertar, ou induz ou deve induzir um êxtase estético, uma piedade ideal ou um terror ideal, um êxtase que perdura, que se prolonga e que acaba, por fim, dissolvido pelo que eu chamo o ritmo de beleza” James Joyce, Retrato de um artista quando jovem.
“[…] a estrutura da tragédia mais bela tem de ser complexa e não simples e ela deve consistir na imitação de fatos inspiradores de temor e pena – característica própria de tal imitação – […]
Às vezes, os sentimentos de temor e pena procedem do espetáculo; às vezes do próprio arranjo das ações, como é preferível e próprio de melhor poeta. […] como o poeta deve proporcionar pela imitação o prazer advindo da pena e do temor, é evidente que essas emoções devem ser criadas nos incidentes” Aristóteles, Arte Poética.
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Vera Saad é autora dos romances Dança sueca (Patuá, 2019) e Telefone sem fio (Patuá, 2014) e do livro de contos Mind the gap (Patuá, 2011), é jornalista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC – SP e doutora em Comunicação e Semiótica também pela PUC – SP. Ministrou no Espaço Revista Cult curso sobre Jornalismo Literário em 2012. Tem participações nas revistas Cult, Língua Portuguesa, Metáfora, Portal Cronópios e revista Zunái. Vencedora do concurso de contos Sesc On-line 1997, avaliado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, foi finalista, com o romance Estamos todos bem, do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana. Seu romance Dança sueca foi selecionado pela Casa das Rosas para o projeto Tutoria, ministrado pela escritora Veronica Stigger. Mantém uma coluna na revista Vício Velho.