Coluna | Palimpsesto
Quando a escritora Carolina Bernardes havia me convidado como uma das autoras do prefácio de seu novo livro, senti-me não apenas honrada, mas com uma responsabilidade imensa. Conheço Carolina há muito tempo, minha colega de editora. Fui apresentada à sua escrita pelo livro Retalhos e Epopeias, lançado pela Patuá em 2012 (há dez anos!), e, a partir de então, passei a lhe nutrir uma admiração de leitora. Carol carrega uma força impressionante em tudo que escreve.
Recentemente ela lançou o livro A Falésia da Árvore de Fogo. Antes do lançamento, a autora me direcionou o convite, a ideia era prefaciar um de seus capítulos. Hesitei um pouco em escrevê-lo pelo momento que vivia, mas logo mudei de ideia ao ler o texto em questão.
Parecia que aquelas palavras tinham sido escritas para mim. Uma frase especificamente, era minha: “Nesses períodos em que relembramos o prazer do casamento, aceito resignada a necessidade de curar a casa e assumo o balde, o rodo e a vassoura, como se a mim coubesse a função eterna de organizar.”
Associei a frase à minha condição paradoxal de mulher e escritora, pois escrever é também assumir que a “ruína é a estrutura do cosmos”, segundo as palavras da escritora. Viajei com Corina, me vi nela. Carol me segredou que Corina é também ela, e então percebi a importância do livro. Corina somos todas nós! A situação que nós, escritoras, vivemos ainda não difere muito da descrita por Virginia Wolf, infelizmente! Daí a importância do livro de Carolina Bernardes e minha enorme responsabilidade na produção de um de seus prefácios.
Posso afirmar de modo categórico que A Falésia Árvore de Fogo é um projeto literário inovador e extenso, Carolina Bernardes não apenas revê sua escrita em seu novo romance, como também traduz pelo próprio ato o “calor e a violência de um coração de poeta preso no corpo de uma mulher”.
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Vera Saad é autora dos romances Dança sueca (Patuá, 2019) e Telefone sem fio (Patuá, 2014) e do livro de contos Mind the gap (Patuá, 2011), é jornalista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC – SP e doutora em Comunicação e Semiótica também pela PUC – SP. Ministrou no Espaço Revista Cult curso sobre Jornalismo Literário em 2012. Tem participações nas revistas Cult, Língua Portuguesa, Metáfora, Portal Cronópios e revista Zunái. Vencedora do concurso de contos Sesc On-line 1997, avaliado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, foi finalista, com o romance Estamos todos bem, do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana. Seu romance Dança sueca foi selecionado pela Casa das Rosas para o projeto Tutoria, ministrado pela escritora Veronica Stigger. Mantém uma coluna na revista Vício Velho.