TRÊS POEMAS DE THÁSSIO FERREIRA

Coluna | Alguma coisa em mim que eu não entendo


 

#
no palco onde
subi a primeira vez
— nem lembro bem
sentindo o quê
talvez a boca
mordente do medo
e a voz rouca
dormente em desejo —
para dizer
                       poemas

um estranho irmão —
inconfortável, forçando
meu arredio — afirma:

a poesia é a coisa
mais importante
que conheci

tolo

(mas nunca esqueci
a pulsão no cu)


#
documentário
sob chuva

no título duas palavras
talvez indissociáveis:
risco & utopia

imagens de arquivo
: filme 8 milímetros
descubro
meio sem entender:
com tal película
por erro
                 de manuseio
acontece muito:
por cima de algo
gravar-se outro isto

: onírico


# a imagem do som

no quarto claro
como um museu
a imagem do som
de caetano veloso

mas tu é gostoso

olha quem fala

depois sorriu
                            ficou
                                          choveu

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Thássio Ferreira é escritor, autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018) e agora (depois) _(Autografia, 2019). Tem poemas e contos publicados em revistas e antologias, como Revista Brasileira (nº 94), da Academia Brasileira de Letras, Escamandro, Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Revista Ponto (SESI-SP), aqui na Vício Velho, InComunidade (Portugal), e outras. Seu conto _Tetris foi o vencedor do Prêmio Off Flip 2019, e seu livro inédito Cartografias, finalista do Prêmio Sesc 2017. Foi editor e curador da Revista Philos de Literatura Neolatina. Mantém página no Facebook, no Instagram e uma coluna quinzenal na revista Vício Velho.