Coluna | Alguma coisa em mim que eu não entendo
Depois de poemas para vozes que cantam e poemas para poetas de sempre, afetos em versos para corpos no mundo, tentativas de traduzir o que não se explica: conexões sentidas
# meninos no pomar
(eu & gabriel)
peguei jambo pá tu
fieira de arcanos
todo malícia
e o tempo sumia
desembestado
(que nunca (ia))
#
poema do encantado
(para bruno spadoni)
acho que você
ficaria feliz
em saber
que tinha um enorme
potencial
de me causar poemas
talvez até bons
(inclusive ensaiei alguns
assim, meio oblíquos
de quina, improviso)
antes de:
desaparecer
# para cadu
tinha ao peito
— mas poderia
ser à coxa
à bunda
às costas
(ao cangote)
gravado nas pupilas
hipnóticas ou nele todo
uma tatuagem
em dinamarquês:
aproveitar os pequenos
momentos da vida
(numa pronúncia meio
pra dentro: escandinava
dizia
mas todo modo conve-
nientemente direta
digo):
hygge
# quandos
à noite
à janela e ao espelho
ou às nove da manhã
quandos ninguém
me olha e estou só
comigo mesmo
sinto saudades suas
seu filho da puta
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Thássio Ferreira é escritor, autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018), agora (depois) _(Autografia, 2019) e Nunca estivemos no Kansas (Patuá, 2022). Tem poemas e contos publicados em revistas e antologias, como Revista Brasileira (nº 94), da Academia Brasileira de Letras, Escamandro, Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Revista Ponto (SESI-SP), aqui na Vício Velho, InComunidade (Portugal), e outras. Seu conto _Tetris foi o vencedor do Prêmio Off Flip 2019, e seu livro inédito Cartografias, finalista do Prêmio Sesc 2017. Foi editor e curador da Revista Philos de Literatura Neolatina. Mantém página no Facebook e o Instagram