Coluna | Palimpsesto
Falar de O sol se põe em São Paulo de Bernardo Carvalho é também pensar nas coincidências que a literatura promove. O livro faz menção ao escritor japonês Tanizaki e aqui posso começar minha raspadinha. Tanto no livro de Bernardo Carvalho quanto no livro Voragem, de Tanizaki, há um triângulo amoroso, narrado por uma voz que se confunde entre as personagens e as cartas amorosas.
Poderia terminar minha raspadinha por aqui, mas vou além e narro uma coincidência que aconteceu com o livro de Bernardo Carvalho. Antes de ler o romance eu havia assistido ao filme Brother de Kitano. Sonhei com o filme algumas vezes, em um dos sonhos era eu a perseguida pela máfia japonesa Yakuza e me refugiei em uma casa no bairro Paraíso. Pouco tempo depois, já com o livro junto ao corpo, li uma passagem que descreve uma casa no bairro Paraíso exatamente como eu a havia sonhado.
Aquilo me assombrou por tantos dias que busquei uma forma de contar ao escritor o ocorrido. Consegui seu e-mail por uma amiga em comum, a grande tradutora Leiko Gotoda (que acabou virando personagem no livro). Enviei o e-mail sem esperar alguma resposta, eis que a resposta chega. Não a escreverei na íntegra, mas deixarei aqui um trecho que acho muito interessante e que hoje reforça minha ideia de literatura:
“É como se um grande cérebro coletivo estivesse sonhando e escrevendo o mundo ao mesmo tempo, captando imaginações, estabelecendo conexões impensadas. Há correspondências inusitadas e surpreendentes entre os livros e entre os livros e os leitores. E isso faz pensar que exista mesmo uma dimensão das coisas que só a literatura pode expressar.”
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Vera Saad é autora dos romances Dança sueca (Patuá, 2019) e Telefone sem fio (Patuá, 2014) e do livro de contos Mind the gap (Patuá, 2011), é jornalista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC – SP e doutora em Comunicação e Semiótica também pela PUC – SP. Ministrou no Espaço Revista Cult curso sobre Jornalismo Literário em 2012. Tem participações nas revistas Cult, Língua Portuguesa, Metáfora, Portal Cronópios e revista Zunái. Vencedora do concurso de contos Sesc On-line 1997, avaliado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, foi finalista, com o romance Estamos todos bem, do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana. Seu romance Dança sueca foi selecionado pela Casa das Rosas para o projeto Tutoria, ministrado pela escritora Veronica Stigger. Mantém uma coluna na revista Vício Velho.